quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Papel, Consumo e Trabalho Escravo

Em abril deste ano o Ministério Público do Trabalho do RS encontrou, em  cidades gaúchas, trabalhadores em situação de trabalho escravo em cidades do Rio Grande do Sul. As empresas, que não foram nominadas pelo MPT lidam basicamente com extração de tanino da Acácia Negra, corte e descasque de Eucalipto e produção de carvão.
Passados quase 7 meses do anúncio da força-tarefa que flagrou mais de 400 trabalhadores que não recebiam os dias de chuva, dormiam e comiam próximos a botijões de gás, bebiam água não potável, não possuíam equipamento de proteção individual adequado, nem carteira de trabalho, nem banheiros, etc., fui buscar no site do MP notícias sobre o resultado da ação.
Nada.
Como na matéria apresentada o nome das empresas irregulares não foram divulgadas, mas apenas as cidades(Montenegro, Estância Velha, Venâncio Aires, Butiá), fica mais difícil buscar informações.
As grandes plantadoras de acácia negra, pinus e eucalipto, já há tempos denunciadas, parecem estar sendo menos lembradas. Mas os agricultores expulsos de seus minifúndios, que hoje em vez de alimentos produzem papel, como estão? A extensão das áreas plantadas cultivadas para a produção e papel diminuiu? Não, apesar da violenta crise econômica nos EUA e Europa demandarem menos papel. E um papel que era e é, ainda, usado com desperdício, para embalagens. Proporcionalmente, o povo lá de cima usa doze vezes mais papel do que é usado pelo Brasil.  Nem mesmo a pesada crise que produz a cada dia mais miseráveis, o consumo e o desperdício ainda é visto pelo capital como saída para a superação.
O Brasil recicla perto de 40% de todo o papel que utiliza. É o quarto país produtor de celulose, mas o 12º em produção de papel. Isto significa que tratamos, limpamos, cloramos e exportamos matéria prima para que outros países a industrializem. Fica conosco a poluição, o cloro nas águas, o desmatamento, a expulsão do homem do campo para as periferias das grandes cidades.
Aos defensores do desenvolvimentismo a qualquer custo, parece natural. Até mesmo o trabalho escravo, que  se bem procurado é encontrado pelo RS e Brasil afora, geralmente ligado ao desmatamento, ao agronegócio, e aos grandes produtores de celulose.


 A propósito, seria interessante que o MPT publicasse o resultado dos TACs (termos de ajuste de conduta) apresentados por estas empresas. Que fossem divulgados os pedidos de licenciamento para o plantio destas culturas. E que as força-tarefas, em áreas tomadas pelo latifúndio, continuassem.
Valeu, amigo Vítor, a lembrança da força-tarefa do MP.

*Com dados do site do Ministério Público do Trabalho do Rs

Um comentário:

Heverton Lacerda disse...

A imprensa que lucrou com essas papeleiras se cala. Para ela, escravidão aqui no RS não existe. Ou, caso a identifiquem, não consideram crime.
Nessa terra de gigantes o paradigma ainda parece ser o mesmo: quem rouba pra comer é exposto em praça pública e condenado, quem tem muito dinheiro faz o que bem entende e fica por isso mesmo. Que país é esse Regina?