terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Uma fala de Sávio Loguércio



Recebi de uma grande mulher um dos poucos textos a que tive acesso de um grande homem que por algum tempo fez parte de minha vida.
Infelizmente, não contamos com sua presença. Mas a cada momento, a cada gesto impensado, a cada texto lido, lá está ele, com toda a bagagem   que sempre fez questão de compartilhar com quem queria aprender.
Uma estrela que brilha em nossas mentes, cometa afetuoso de nossas vidas, de alguma sorte deve estar sorrindo, com aquele holywood entre os dedos, o verde do olho iluminando o desejo que nos leva a desejar e lutar por um mundo melhor.




Pois É...                                                                                                                                        
Perdi grandes amigos, por morte ou por mudança (de rumos ou de lugares)                                                      
Perdi amores.                                                      
Perdi anos com coisas que não valiam a pena                  
Perdi a confiança em várias pessoas, principalmente em mim   mesmo.                                                     
Perdi o afeto por muitas coisas que me eram caras          
Depois de ver morrer tantas coisas perto e dentro de mim 
Consegui entender realmente porque "a esperança é a última   que morre".
                                                       
                  
(Luiz Sávio Vieira Loguercio) 

domingo, 19 de dezembro de 2010

Os filhos do Crack

Casualmente ontem li uma coluna que habitualmente não faz parte de minhas leituras: A de Paulo Santana.
Chamou atenção quando passeei os olhos pela página a sigla GHC. E li-a toda, com satisfação de ver um trabalho valioso, desgastante e necessário,  o acolhimento dos usuários de crack.
Falo em crack e não em outras drogas por saber os efeitos variados, as consequências de umas e outras. Já atendi, quando monitora do que hoje é a FASE adolescentes que mataram para comprar cocaína, assim como conheci pessoas que fazem uso, digamos, recreativo desta droga, se é que é possível. Nunca recebi alguém que tenha praaticado massacres para comprar um cigarro de maconha. O álcool, dependendo de outros componentes da psiquê humana, causa estragos que podem conduzir à morte, Idem o cigarro (logo eu, recentemente ex-fumante). Urge discutirmos uma política para drogas, mas sem a carga moral que normalmente acompanha a dependência química, o alcoolismo, o uso de medicações como contenção química, como panacéia para aliviar angústias e modificar comportamentos.
Mas não esta droga. A letalidade do crack me convence de sua função de extermínio da juventude pobre.
O crack tem outras conotações, tem outras finalidades. O crack mexe com o prazer de uma forma que outras drogas não conseguem. Por crack famílias se destroem, se matam. Traficantes de crack, se usuários, são candidatos à morte em curtíssimo prazo. 
Mas as maiores vítimas não são as familias, os usuários que morrem, os roubados pelo vício.
São os bebês de crack.
Que são abandonados nas maternidades logo nas primeiras horas de vida, que sofrem convulsões pela abstinência, que além do abandono tem que conviver com a ansiedade de não saber de onde vem aquele desespero que os faz chorar, sentir fome, pedir colo, pedir água, querer o que puderem aliviar a falta da droga que recebiam via placenta materna.
Bebês feios ou bonitos, mas que não se desenvolvem normalmente. Bebês de um ano que ainda não engatinham, que sequer firmam o pescocinho, que nem de perto lembram o desenvolvimento costumeiro de crianças. Bebês no fim da fila e de chances de adoção.
Por isto, parabéns, GHC. Parabéns, Néio Lúcio. Mas, se metida que sou, puder dar um palpite, dou.
Que estas gestantes tenham a prioridade do atendimento. E que estas crianças recebam o maior cuidado, o maior carinho, que se busquem alternativas. Porque fumar crack, com toda a explicação das mazelas sociais, acaba sendo uma contingência ou opção para a mãe. Mas bebês não fazem esta opção.
Imagem:http://anjoseguerreiros.blogspot.com/2009_

Chaga social: 767 mulheres são agredidas por dia no Brasil

Embora se possa comemorar, com razão, o largo conhecimento alcançado pela Lei Maria da Penha, que pune a violência contra a mulher, há ainda muito a fazer neste campo onde a situação continua calamitosa, como mostram dados do PNAD divulgados hoje pelo IBGE.

A pesquisa relata que cerca de 2,5 milhões de pessoas com mais de 10 anos de idade sofreram algum tipo de agressão em 2009. Destas, 40% eram mulheres (cerca de 1.081.000). O que chama a atenção é que um terço delas foram agredidas por parentes, companheiros ou ex, que foram responsáveis por mais de um quarto do total de agressões (25,9% ou cerca de 280 mil).

Isso significa que a cada dois minutos ocorre uma agressão contra a mulher no Brasil (são, em média, 767 por dia, 32 por hora ou uma a cada 30 segundos). Outro dado reforça a natureza doméstica da agressão contra a mulher: mais de um quarto delas (25,4%) ocorrem dentro da própria residência.

Mais da metade dos agredidos não procurou ajuda policial para se defender e certamente a maioria destes, pode-se imaginar, são mulheres. Um em cada cinco porque não considerou importante; um número maior (um em cada três) por temer represálias ou não querer envolver a polícia.

O dado a comemorar foi revelado por outro estudo, divulgado pelo IPEA na semana passada. Ele mostra um avanço na consciência sobre os direitos da mulher e, principalmente, acentua que este não é um problema de natureza privada, mas social. A imensa maioria (80%) das pessoas entrevistadas pelo estudo “Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre igualdade de gênero 2010” considerou que a violência contra a mulher é de responsabilidade da sociedade como um todo, contra apenas 14% para os quais o problema é isolado. Mais: um número superior a 90% dos entrevistados considera que essas agressões “devem ser investigadas pelo Estado mesmo que a mulher não queira”, destacou a técnica Maria Aparecida Abreu, no lançamento do estudo.

Além de ser uma questão pública, social, ela é também um problema civilizatório. O grau do avanço de uma sociedade, já disseram alguns pensadores avançados desde o início do século 19, é indicado pela igualdade entre homens e mulheres. E a violência contra a mulher, cujos protagonistas são principalmente homens que julgam ter direitos especiais, e definitivos, sobre elas, é o principal fator de atraso neste ponto. Parceiros que tratam suas companheiras como objetos de consumo, satisfação pessoal, como bens arroláveis entre as demais propriedades que controlam, e usam a força física ou a violência verbal para impor privilégios. Acionam o medo, a intimidação, a humilhação, para manter formas de relacionamento desigual, e submeter o outro (a outra, no caso) a seus caprichos, vontade, idiossincrasias e fantasias.

Os dados do PNAD mostram que ainda há muito a fazer na conquista da igualdade e no combate contra a opressão da mulher, e o estudo do IPEA mostra que há disposição para isso. É preciso unir estas duas pontas –necessidade e disposição – para avançar na luta contra esta verdadeira chaga social que é a opressão da mulhe

sábado, 11 de dezembro de 2010

Considerações sobre o amor

Pensava eu, dia destes, sobre as crueldades da humanidade. Do que nomina o que tem outros nomes, do que mais fere e machuca, do que humilha, mata e destrói. Do que busca motivos nobres por justificativa, mas que tem por finalidade a opressão, a dominação. 
Quando lembro das cruzadas em nome de Cristo, dos massacres em nome da religião, da soberba imposta por tiranos que  justificam-se cinicamente e de algozes passam-se, para incautos, por benfeitores.
Penso nas desgraças justificadas pela religião, pelo cruel bem-querer e pelo tal - ah - de amor.
Pobre amor, que em sua essência é pura libertação.
Em nome do amor mulheres são vigiadas, cerceadas e, não raro, mortas.
Em nome deste mesmo amor homens, em menores proporções, tem suas vidas controladas pelo ciúme doentio.
Em nome do afeto pessoas são aniquiladas, oprimidas, desprovidas dos mais básicos direitos de opinião, de vontades, de oportunidades.
Em nome do amor filhos são gerados por decisão de uma só pessoa, com objetivos determinados, independente da vontade e de combinações feitas. Aí o dito amor aparece com toda sua garbosidade e moral. 
O amor bestial, este que sufoca e aniquila, transforma imposições em agrados. O amor egoísta exige da criatura dita amada a total subserviência. Em nome do bem do ser amado a vontade deste aniquila-se, afinal quem ama sabe o que lhe é melhor. Este amor autoritário e perverso exige  que quem ama esteja sempre rodeado pelos seres amados, que lhes devem subserviência como retribuição do amor recebido. A troca deste amor é a companhia constante, o séquito ininterrupto. E quem não lhe fornecer este retorno do amor dado, este é o assassino, o perverso, o ingrato. Simplesmente por conseguir enxergar a manipulação exercida por quem abre mão da própria vida pela culpa de não poder descuidar ou contrariar aquele ser que tanto amor lhe embustiu dar.
E então, quando penso em todas as doutrinas monoteístas que apresentam-se como tendo por pilares a caridade e o amor, logo vejo a dissociação da teoria e da prática. Os deuses invocados pelos monoteístas, estes seres vingativos, bisbilhoteiros e cruéis, feitos à imagem e semelhança dos que lhes concedem autoridade. Estes seres que não podem ser contrariados. Se Deuses, vingam-se. Se humanos, adoecem, sofrem, e convencem a todos desta imensa ingratidão de quem lhe ousou desvendar a intenção criminosa de fazer com que sua vontade seja, a qualquer custo, soberana. Contrariar um destes vampiros do amor é debater-se com uma platéia de adoradores ludibriados por este ser amoroso.
Amor é tudo menos imposição, chantagem, manipulação. Amor não rima com autoritarismo, com crueldade, com chantagens, com manipulação. Amor não  entende que a vontade daquele que diz amar tenha que ser soberana. Os impostores que se deleitam e utilizam de um amor inventado, daquele criado para justificar suas próprias carências e necessidades, certamente podem conhecer e sentir sentimentos variados, como o egoísmo, a soberba, o desprezo por aqueles que dizem amar e principalmente a imensa vaidade de ter sua vontade sempre cumprida.
Na  verdade, este amor cínico, cruel e egoísta só faz mal aos incautos cuidadosamente preparados para serem tropa guardiã do monstro que tudo consegue em nome do amor.
O amor não criminoso, o amor verdadeiro, é aquele que se alegra em ver seus seres amados alçando vôo ao invés de engendrar armadiljas para ver-se sempre cercado por eles. Quem ama quer ver o ser amado longe, descobrindo-se, desabrochando, e não enrodilhado à sua volta, fazendo parte da corte cruel que lhe é imposta.
Quem ama prepara seus amados para a liberdade. Este é o verdadeiro amor: Aquele que quer ver o objeto de seu amor livre, construído e constituído.
Quem ama prepara os seres que diz amar para a vida, e não lhes cobra servidão incondicional.
Quem ama não exige sacrifícios do ser amado.

Música para o sábado

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

As sobras da Operação Rio

Alguém saberia dizer como será depois que a ocupação do Rio deixar de ser manchete?
O que fzer com os milhares de "bandidos" expulsos dos morros cariocas? Sim, são traficantes, olheiros, fogueteiros, empacotadores, seguranças, gerentes e outras funções que nem sabemos.
O tráfico emprega, hoje no Brasil, uma considerável quantidade de jovens, em sua maioria sem instrução ou qualificação que lhes permita disputar o mercado de trabalho em condições de igualdade com quem não mora nas favelas, possui um melhor vocabulário, aparência e encaminhamento. Quem nunca passou por uma boca de drogas, que passe para ver. A segurança é total: Traficantes não querem "pilhas" em sua área. O tráfico é uma empresa com hierarquia, com - pasmem-  plano de carreira. Claro que a vida útil de um trabalhador do tráfico é breve, muito breve. Depois,  cadeia ou morte. A FASE está lotada de meninos que querem sair para a rua para "trabalhar". 
Tráfico é carreira. Bem curta, mas em muitos casos, a opção mais próxima, rápida e glamurosa..
Nós, com nossas concepções formadas a partir da escola, família e até em alguns casos igreja, não conseguimos entender que para estes meninos o tráfico,  um emprego, que lhe dá o que a TV mostra, o que eles almejam consumir  e que eles não tem como ter. 
Quem disse que as pessoas devem obrigatoriamente comportar-se da mesma maneira frente aos desafios da vida? Porque uns tem, outros não? Que critério? E se aquilo que a mídia me diz que preciso ter para ser, se  não tenho emprego, sou feio , analfabeto e tímido, como conseguir o que eu quero? 
Ações exemplares ficam marcadas, causam impacto, repercutem.
Afinal, quando o Estado não cumpre a sua função, cria-se um estado dentro do estado.
Mas continuo querendo saber o que será feito dos nem tanto criminosos, e como tocarão suas vidas.
A violência decorrente do tráfico é decorrência . da criação, do meio, da vaidade e do capitalismo. Dos usuários, que buscam suas drogas onde elas estiverem.
Não, não estou fazendo apologia do tráfico, penso que a situação no Rio era limítrofe e algo predcisava ser feito.
Mas apenas ocupar morros e favcelas expulsando os traficantes que antes detinham o controle não resolverá o problema da violência.
Os duzentos, os dois mil ou milhares de trabalhadores do tráfico não passarão automaticamente a bancários, corretores, vendedores. Continuarão sem trabalho. Precisando comer. Com mais raiva represada., A expulsão das favelas não os transformará em profissionais com qualificação, não lhes matará a fome, não mudará anos de convivência e aprendizado da favela.
Então, o BOPE e a GLOBO podem estar em seu momento de glória. Mas estes homens, mulheres e meninos continuarão tendo necessidades, e suprindo-as da maneira que conhecem.
Porque não foi pensado em como absorver esta imensa mão de obra, em capacitação, encaminhamentos, alternativas. Foi uma "ação exemplar", daquelas que agradam desde a imprensa internacional noticia. Realmente, ação de impacto.
Mas o se viu na mídia, foram  adolescentes miseráveis correndo em meio ao mato, em fuga desabalada, enquanto os verdadeiros chefes do tráfico nem estavam lá.  Ah. certamente alguém vai dizer : São assassinos, torturadores..... Certo, muitos são. . Mas para quem a própria vida não vale nada, porque a alheia valeria? Lembro de um adolescente da antiga FEBEM que me dizia sempre: "Dona, prá morrer basta estar vivo. E morro eu, tem mais cinquenta prá aparecer."
Claro que morreu antes de completar 18 anos.
Que bom que o Rio não tenha mais ônibus queimados, arrastões. selvageria.ado se eximiu de suas obrigações o tráfico e as milícias assumiram os territórios e isto não deve, não pode acontecer.
Claro que a polícia tem que agir, claro que a população precisa de segurança, claro que enquanto o Est
Mas eu gostaria de saber onde estão os que fugiram, e por quanto tempo. E para onde vão. Quanto tempo levará a reorganização, se não forem tomadas outras providências que não as militares. Quantos empregos existem para ser oferecidos? Quantos leitos para dependentes? Como impedir que o crime organizado ocupe espaço em outros espaços?
Ou, quem sabe, teremos automaticamente e por obra divina, centenas de novos profissionais, capacitados, totalmente desvinculados do crime. Quem quiser, que acredite. E estes novos trabalhadores, acostumados com outra vida e outros ganhos ingrressarão no mercado de trabalho cor-de-rosa tranquilos e satisfeitos com a precarização de trabalho e dos baixos salários, com alguma mágica que não conheço. 
Para algum lugar, eles vão.