segunda-feira, 15 de março de 2010

Doença e preconceito

Estou firmemente convencida que não temos idéia do tamanho da carga de preconceito sofrido pelas chamadas minorias sociais. No Brasil, por sinal, chamar negros, índios e mulheres, não faz o menor sentido. Mulheres são mais da metade da população e quatro quintos dos brasileiros carregam genes negros ou indígenas.
Falo em preconceito depois de sentar em um bar de periferia com um amigo gay para conversarmos a respeito de nosso curso, na federal do RS. Onde um homem branco, acompanhado de uma criança de seus dez, doze anos, aparentemente seu filho bebia. Completamente embriagado, apesar dos protestos da criança, o “senhor” em questão não se resolvia a ir embora. E quando nos viu chegando, eu uma mulher cinquentona, ele um gay de vinte e poucos anos, indignou-se. Meu amigo não quis incomodar-se com os olhares de curiosidade do bêbado, já calejado com situações como esta. Então, como não obteve nem bradou em alto e bom som:
- Eu sou homem de verdade. E virando-se para outro freqüentador perguntou:
- E tu, és homem ou aquela outra coisa?
O outro freqüentador, constrangido, respondeu que sim, era homem. E virou-se para não continuar o assunto. Este freqüentador, ao ouvir o (provavelmente) filho reclamar de sono, comentou que se a criança fosse embora poderia ser culpada de abandono de incapaz.
Indignada com a situação do incapaz (o bêbado, não a criança, e a fragilidade da criança, submetida ao que considerei maus tratos), tentei ligar para o 190. Por ser crime levar uma criança para bares naquele horário (22 horas). Por ser crime oferecer cerveja para o menino, que já estava completamente irritado. E por ser crime federal discriminar ou ofender alguém em função de sua orientação sexual. Mesmo que a lei contra a homofobia, infelizmente, ainda não seja lei.
Enquanto tentava falar com a polícia militar, entretanto, o sujeito levantou-se, trôpego, e saiu. E absolutamente estarrecida, vi-o arrancar um carro do tipo furgão, derrapando pneus, completamente embriagado, carregando uma criança. Infelizmente não consegui enxergar a placa. Infelizmente, não pude denunciá-lo. Infelizmente.
E pensei na miséria da condição humana, onde um doente, necessitado de tratamento e limites, acha-se em condições de criticar alguém simplesmente por seu pensamento e gosto não lhe ser igual.

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