Flor de Tule

Destino
Eu não sei porque gosto, mas sei que eu preciso
do escuro invisível que me junta a ti.
Emaranhas meus gostos, quereres e trilha,
Me agarro aos sentidos que trazes a mim.

Meus sonhos embotas, gostares me tomas,
procuro teu timbre e não ouço teu pranto.
mas sei que percorres o escuro por mim.
Minh'alma roubaste, não ouso fugir.

Em dias comuns, as tormentas me invadem,
Querer, eu não quero, não posso querer.
Procuro e não acho tua sombra sem rosto.

Disfarço e permito que tenhas algemas
de carne, perfume, desejo e prazer
Deixarmos de nós é impossível de haver.


Para Júlia
Junta tuas partes do chão,
chora sobre elas,
e com tuas lágrimas,
cola uma a uma.
Depois, dá uma sonora gargalhada para limpar o rosto -e - ZIP -
Eis que a alma se rejunta e revive.
Com toda a força que os males nos ensinam a ser mágicos.
De quebra, a felicidade vem junto!




Adoro cheiro de tinta fresca.
Cheira à adolescência, portas pintadas,
esperando o natal.
Cheiro agora de tinta-primavera,
O sol insolente batendo na janela,
Cheiro de jasmim e dama-da-noite
misturado com cheiro
da tinta que pinta portas
reais e imaginárias,
onde umas abrem, fecham
e outras são apenas expectativas
de uma mudança esperada
que tarda a chegar.
Adoro cheiro de tinta fresca.





A noite mais longa do ano.
Aqui, inverno.
No norte, auge do verão.
Das colheitas, casamentos,
O sol que nunca lá brilha como aqui
Esquentava os telhados
E grafava sorrisos
nos rostos de pele branca, olhos claros,
oferendas de frutas e cordeiros,
Aqui, peles e corpos encostados
para render o pouco calor.
Lá, antes dos homens santos
transformarem a alegria em culpa,
Festa.
Aqui, antes dos invasores tomarem
a terra e os da terra,
fogueiras acalentando o sonho
da noite mais curta do ano.

Inverno
Lua.
Céu, distante.
Folhas esparramadas pelo chão.


Outros Ventos
Agosto passou rasante.
Nem cães loucos,
nem mortes espetaculares,
as chuvas de sempre trazendo
os estragos consentidos por nossas mãos.
Junho, julho, agosto,
O frio passou estendido
nos negros e brancos estendidos pelas calçadas.
O frio espreme-se nas cobertas
espremidas entre tantos.
O frio já não vinga
Neste começo de setembro.
Logo chegará o tempo das camisetas,
sol lambendo pernas brancas
e dias mais longos.
Logo agora, já agora,
O frio não tem mais dentes caninos,
apenas nos arranha com suas unhas de porcelana.




Tempo, tempo...

Cada dia é mais um dia, ou menos um dia.
Para quem aguarda, menos um dia.
Para quem protela, mais um dia.
No final, tudo depende do ponto de vista.
Todas as coisas são relativas.
Inclusive o tempo.
Tudo depende de quem vê,
e de como vê.
No final,
Cada dia é só mais um dia.




Setembro


Setembro é assim mesmo.

Um dia, vi a pitangueira florindo fora de época.

Setembro dos feriados,

Da mudança de tempo, sol, calor, céu fechando,

fechando, chuva a inundar a cidade,

vento fazendo artes,

Trovões e relâmpagos tomando conta provisória conta do céu. .

Sol, chuva, sol, chuva.

Tomara que venham trovões e relâmpagos também.

Chuva sem luz e som perde um pouco da graça. Ou que venha o sol.