quinta-feira, 31 de março de 2011

Blues, e dos bons!

Fazia muito tempo que não ouvia falar de Coié Lacerda. Músico gaúcho, esmerilhava sua guitarra nos anos 70 e 80. Pois hoje, passando pela cidade, vi um cartaz com seu nome. O ônibus passou rápido, não consegui ver o endereço. Mas vou procurar, e certamente assistir. Prá quem não conhece, uma palinha do moço:

terça-feira, 29 de março de 2011

O socialismo dos repolhos

No início dos anos 80, começo de minha militãncia, lembro de uma  história que era contada por militantes que tinham alguma intimidade com alguns ex-presos políticos, recém-libertos. Lenda ou fato, dizia-se que depois das torturas, interrogatórios, etc., quando a privação de liberdade tornou-se realidade, certo grupo de presos tentou se organizar. Como deveriam conviver por tempo indeterminado nos mesmos locais, a divisão de tarefas foi a primeira providência. Discutiam marxismo, leninismo, alguns poucos trotskistas tinham também tempo para falar de suas teorias. enfim, discussões políticas, saudades de quem ficara fora, incerteza quanto a companheiros de quem não ouviam mais falar.
Com o compromisso de dividir tudo. Afinal, estavam todos eles presos por uma luta comum: Pela liberdade, o fim da ditadura e o socialismo.
Tudo funcionou muito bem até que começaram as visitas. 
Oriundos de diferentes classes sociais, quem tinha recursos subornava a corrupta polícia e providenciava a entrada de produtos proibidos. Cigarros. Livros. Até o dia em que passou, reza a lenda, um litro de uísque, dos importados, sei lá quantos anos.
Dizem que neste dia a garrafa foi "guardada" e não mais vista. Mas o arroz, outros legumes e algumas bolachas foram divididas entre todos.
Passou-se pouco tempo quando os ventos da abertura  chegaram a estes companheiros. Valorosos companheiros, muitos deles deram parte de suas vidas, saúde e sanidade  pelo fim da ditadura.
Certamente não darei as minimas pistas sobre personagens envolvidos neste fato ou lenda. Se fato, muito divulgado. Se lenda, tantas vezes contada que quase virou verdade.
Mas tenho lembrado desta história ultimamente quando leio sobre alta de juros, política constritiva, redução de investimentos. 
Porque o socialismo, ou ao menos a perspectiva de uma vida melhor, não pode ser para poucos.
Nós outros também queremos partilhar das riquezas que este país tem de sobra. Não dá para negar que a vida está melhor, infinitamente melhor do que nos tempos de FHC. 
Mas poderia ser de outra maneira.
Afinal, não queremos só o repolho.
Pense nisto, presidenta!

domingo, 27 de março de 2011

YAWM AL-ARD (RS)

CONVITE
Dia da Terra na Palestina
Atividades no RS

DIA: 30/03/2011 - QUARTA-FEIRA
HORA: 19:30 HS
ATIVIDADE:  ATO em lembrança ao Dia da Terra Palestina (Yawm Al-Ard)

LOCAL: Plenarinho da Câmara de Vereadores de Canoas/RS - Endereço: Rua Ipiranga, 123 – Centro – Canoas/RS

Organização:
Coordenadoria Municipal das Políticas de Igualdade Racial
Sociedade Palestina da Grande Porto Alegre/RS
Grupo Folclórico Palestino Terra

DIA DA TERRA NA PALESTINA - 30 DE MARÇO - YAWM AL-ARD
No Dia da Terra na Palestina, palestinos que ainda vivem nos territórios ocupados por Israel ou no exílio prestam solidariedade às vítimas de uma mobilização ocorrida em 30 de março de 1976. Na época, vários palestinos da Galileia — território ocupado pelo Estado de Israel, em 1948 — que se manifestavam contra a invasão foram reprimidos pelo Exército israelense com violência. Nos confrontos, mais de 90 pessoas foram mortas e 300 acabaram presas.

terça-feira, 22 de março de 2011

Não use a Neosa!

Teoricamente existe, no Brasil, um conselho de ética que regulamenta a publicidade no Brasil. Teoricamente, penso eu, depois de assistir a algumas propagandas de cerveja e outras peças. Mas o comercial que assisti hoje de um medicamento, a Neosaldina, passou da conta.
Que o capital não dá tréguas, sabemos. Que o homem, para o sistema, serve para produzir riquezas, sabemos. E também sabemos que as condições de trabalho e vida de quem produz não importa a quem detém as riquezas. E que a indústria farmacêutica, ao ínvés alimentar a qualidade de vida e saúde preventiva, preocupa-se notadamente em produzir lucro. E quanto lucro!
O comercial referido abre com uma (provavelmente) executiva, atormentada por dores de cabeça. Então ela saca da bolsa uma cartela do remédio, e transforma-o em chaves. Aberta a "cabeça" onde estavam as ddores, saem balões com cartazetes: "Prazo", "Fatura", "Conta", "Vencimento", e outros compromissos, daqueles que o capitalismo faz questão cerrada em nos impor.
Ao lado dos antidepressivos, tranquilizantes, moderadores de apetite, controladores de humor, entre tantas drogas legais e ilegais, surge mais uma panacéia.
Nada de alimentação saudável, nada de qualidade de vida. Nada de diminuir o consumo. Aí estão as drogas milagrosas, que transformam pesadelos em sonhos desde que seguida a prescrição.
E aí está, dizem eles, a solução para os problemas causados  pela competição, acumulação e necessidade de consumo que alimentam o capitalismo.
Pelo menos comigo, o efeito foi inverso. Privilegiada por quase nunca ter dores de cabeça, caso tenha alguma, certamente NÃO tomarei este medicamento.


quarta-feira, 16 de março de 2011

Volta, Muricy!!!

Muricy Ramalho é, ao lado de Falcão, o sonho dourado de todas e todos os torcedores do Sport Clube  Internacional, o Campeão de Tudo, meu TIMÃO. 
Bueno, com a saída de Muricy do Fluminense, Celso Roth, que estava pura retranca, montou, para o jogo de hoje, um time bem mais ofensivo, e o resultado foi a goleada de 4X1 sobre o Jorge Wilstermann. Aliás, belo jogo, placar que poderíamos ter de rodo, se Roth raciocinasse na máxima mais realista do futebol: Se fechar e não fizer gols, leva gol. Ufff..
Mas a preocupação está sendo, neste exato momento (22h47min, em 17 de março, quarta-feira), é esta goleada que o Santos, com seus gansos e neimarzinhos de moicano e tudo, está levando. 
É que Muricy dando sopa, e com o time paulista sendo goleado como está sendo neste primeiro tempo, vai que o Santos queira levar NOSSO Muricy para lá...
Não adianta. 
Tem que vir Muricy para botar Leandro Damião e Oscar para mostrarem o que sabem.
Tem que vir Muricy para garantir a terceira Libertadores.
E o Santos que se vire por aí. Apesar dos protestos que certamente meu camarada Wagner Gomes fará se ler esta postagem.
Vou dormir sem ver o final do jogo. Tomara o Santos vire o jogo e não tome uma goleada maior ainda. Tomara fique com seu técnico, ou busque outro sei-lá-onde.
Porque Muricy, este a gente quer aqui.



quinta-feira, 10 de março de 2011

Mensagem para Dilma e outras brasileiras

E ontem  foi Oito de Março, data que até pouco tempo atrás não deixaria de participar, colaborar, ajudar na elaboração... Enfim, feminista, mas das não remuneradas, desde há muito, muito me consumi em fazer deste dia um dia de, quem sabe, conscientização, alerta, descerramento dos véus que cercam nossos preconceitos e opressões, um dia de comemorações ou denúncias.
Este ano em especial tinha tudo para preparar grandes atividades. Afinal, Nossa presidenta é mulher. A mulher mais votada deste país, para deputada federal, é de meu estado, cidade e partido. Minha outra querida camarada ocupa uma secretaria das prioritárias (SEMA) .Criou-se, no governo que ajudei a eleger, uma secretaria para ... assuntos das mulheres, ocupada por uma militante, velha conhecida por mim e competente.
As coisas mudaram. Não somos mais nós, sindicalistas, convidadas a ocupar a vaga dos departamentos femininos dos sindicatos. Além do dia das mães e da distribuição de rosas, construímos ossatura para ocupar espaços antes restritos aos "companheiros".
Não que o machismo tenha sido erradicado com a eleição da presidenta e do esforço individual de algumas militantes mais abusadas. Mas afinal, o que somos nós, mulheres hoje, para nossos partidos? Necessárias para cumprir cotas, militantes ainda hoje menos contestadoras, mais cordatas? Anos e anos de opressão não se dissipam só porque elegemos nossas mulheres. Continuamos nós, as que que reclamam, tidas por indisciplinadas e com laivos de incompreensão a respeito de nossas tarefas? Somos entendidas em nossas posturas? Bem ou mal, a dupla jornada de trabalho não se dissipa só porque a denunciamos. O assédio não desaparece só porque o denunciamos. Os salarios não se equalizam entre os sexos só porque denunciamos a diferença.
E daí entram todos os outros detalhes, as sutilezas da cor, da idade, do peso, do rosto, da cordialidade. É muito mais fácil desqualificar uma mulher (seja por falta de "marido", seja pela "TPM"), utizilando os mesmos argumentos hipócritas que sempre denunciamos nos nem tão longe anos 80, 90...
Com certeza, muitas coisas mudaram. Mas não tanto quanto gostaríamos. Temos uma presidenta, ótimo, demos quase todos nós nosso sangue para elegê-la. Gostaria de pedir-lhe, de mulher para mulher, baixe os juros, amaine esta política constritiva, diminua  a ânsia desenvolvimentista e respeite nosso ambiente. Certamente, Dilma deve ter planejamento para toda esta política que está sendo implementada. Prefiro pensar assim.
Mas não é proibido sonhar, e os sonhos são nosso alimento para a transformação. Sonhar que minhas crianças não mais serão exploradas, abandonadas, que nossas adolescentes possam ter assistência sem imposição de controle de natalidade. Que nossos meninos não desprezem os filhos que, via de regra, são criadas por mulheres, e só por elas. E que mulheres com filhos não sejam excluídas das possibilidades de empregos. Que existam creches, médicos, assistência. É isto que espero da presidenta, muito mais que Monte Belo ou ajuste de juros. Espero fraternidade com nossas meninas e mulheres.
Então, dou-me ao direito de sonhar ainda com medidas que diminuam a miséria física e moral que todos estes anos de opressão nos fizeram pensar que nós, de alguma forma, ainda não podemos sentir nossos companheiros como iguais, e nem sentir a nós mesmas como donas e agentes de nosso próprio destino e vontade.
Vou suar um velho e gasto clichê: Ainda acredito em tudo isto e muito mais. Com orgulho, sou daquelas brasileiras que não desistem nunca. Sou feminista, e espero desta geração de minhas filhas, que nossa luta tenha seguimento. Porque em vão, ah isto nunca, nunca nossa luta foi em vão.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Quando as crianças crescem

A convivência com adolescentes no abrigo onde trabalho tem me trazido várias inquietações.
A abrigagem de crianças e adolescentes, seja por maus tratos, abuso, vulnerabilidade ou mesmo por medida protetiva resolve-se, apesar dos graves problemas, absolutamente compreensíveis para quem trabalha com esta clientela.
Afinal, numa sociedade onde é necessária a existência de um excedente de mão-de-obra para garantir que tarefas não qualificadas continuem sendo sub-empregos, mal pagos. E o moralismo reinante não permite que um planejamento familiar eficiente seja implementado no país. Mesmo com medidas sociais, com programas, com o arremedo de redistribuição de renda, não se resolve 511 anos de dominação e opressão. Nosso país avança em medidas compensatórias a passos lentos. As urgências da ignorância, da fome, da discriminação tem mais pressa do que o que lhes oferecemos.
Em um tempo relativamente curto, a maioria dos acolhidos adapta-se à regras e normas dos abrigos. Obviamente que crianças e adolescentes que, em sua quase totalidade, não estão acostumados com limites impostos, não aceitam de bom grado a mudança de paradigmas. Horários determinados, hábitos de higiene e cuidados com o corpo e aparência, novas maneiras de relacionamento levam certo tempo para incorporar-se à maneira de crianças e adolescentes relacionarem-se com pessoas que antes não faziam parte de seu universo. Estudar em horários determinados, resolver problemas sem uso da força física, aguardar sua vez para falar, sentar-se a mesa com novas maneiras, cuidar de seus pertences... Tudo novidade.
Mas após um período que considero curto, a maioria dos acolhidos conseguem incorporar os novos hábitos. Cito como exemplos mais marcantes o beijo de boa noite, o costume de novas palavras, sejam elas "dá licença" ou "por favor".
Acolhidos existem que chegam aos abrigos em tal situação de miserabilidade emocional que demoram mais tempo para integrar-se aos novos hábitos. Histórias de vida, de sofrimento imenuráveis para tão pouco tempo de vida, agressões, abandono e abusos, tudo isto faz com que parte da clientela desconfie de quaisquer demonstrações de afeto ou mesmo de respeito. A miséria não é só material, é miséria moral, é ausência de afeto, de cuidado, de qualquer sinal de humanidade. Certo, provavelmente estes pais que procedem ao abandono ou aos maus-tratos já passaram também por situações idênticas ou até mais degradantes.
O que não justifica, de forma alguma, sua atuação. Não justifica, mas de certa forma, explica.
Mas depois da conquista da confiança, do afeto, do período de bonança destes meninos e meninas, aparece a sombra dos 18 anos. O desligamento. Quando aquele período de acolhimento, cuidado e organização, o fantasma da saída do abrigo espera por eles, independente do grau de organização atingido.
A maioridade, para acolhidos em abrigos do Brasil e, penso eu, do mundo todo, para quem não está devidamente encaminhado, significa o segundo abandono. O que espera meninos e meninas que completam a idade cronológica que foi convencionada como maioridade?  Que trabalho? onde morar? Quem são suas referências? A quem será dado o beijo de boa noite? Com quem conversar suas dúvidas?
A nova família a duras penas aceita e conquistada, os novos afetos: Mais perdas?
Nossos agora adolescentes saem dos abrigos para o mesmo mundo de onde vieram. Tomara tenhamos nós construído em suas personalidades a força suficiente para enfrentar este velho mundo com a capacidade de entender seu papel, e principalmente, de não reproduzir as tragédias, o abandono e os maus-tratos que os
levaram até as casas de abrigagem ou passagem.
(parte 1) - Segue