terça-feira, 6 de setembro de 2011

Depois das mulheres das cervejas, as garotas do refrigerante


Pague uma, leve duas, diz o comercial da Pepsi que acabei de assistir. Uma lata, duas latas, uma garrafa, duas garrafas. Até aí, tudo normal. Até os últimos segundos, quando o ator declara, orgulhoso, sua sorte: Fez o comercial com uma loira, e levará duas. Final: Duas mulheres simulando nado sincronizado em uma banheira, e o rapaz, óbvio, deliciado com a imagem e o que insinua, virá depois.
Não bastassem as louras geladas, as devassas, as boas, agora também os refrigerantes deixam os apelos subliminares para explicitar a atual mulher-coisa, sem identidade nem personalidade. Uma coisa a ser comprada, só.
Quando eu era adolescente e ouvia falar em "mulher objeto" tinha uma vaga ideia da coisa. Tipo aqueles calendários de borracharia. Sempre me vinha à ideia um poster de uma modelo, chamada Marina Montini, uma negra lindíssima, retratada por Di Cavalcanti, que fotografou vários calendários de motores, pneus, etc. Ou aqueles comerciais da época, quando as mulheres apenas enfeitavam o que quer que estivesse à venda. 
Além de Marina, a Ipirela, boneca em desenho animado que deitava-se sobre os carros que usavam gasolina Ipiranga, e que era quase um escândalo, tamanha a popularidade entre meninos e adolescentes (acho que entre adultos também).
E de um cartaz da Coca-Cola que foi retirado de circulação, virou raridade disputada, mas que vendia muito mais do que a bebida o corpo belo e esguio, bem  desenhado e  totalmente nu, em épocas de moral, bons costumes e hipocrisia.
Claro, não pode faltar a mais famosa de todas as pin's: Marilyn Monroe, de triste morte e pior vida.
Pois assistindo o comercial da Pepsi-Cola lembrei de todas as mulheres, desenhadas ou não, que continuam a vender seja o que for, muito mais seus corpos e dignidade do que pensam anunciar.
Pois décadas passadas, leis de proteção à mulher, onde teoricamente a propaganda auto-regula sua ética, lá estão elas. Cada vez mais jovens, cada vez mais efêmeras, vendendo a si mesmas a ilusão de sucesso e vulgarizando a todas nós, que não queremos nos vender.
A propósito, não divulgarei o comercial. Não quero dar IBOPE (ou seja lá como se chama audiência agora) para a Pepsi. E sugiro que, mesmo que seja tentador, para quem toma refrigerante, comprar um e levar dois: Boicote à promoção.
Finalmente lembro que as magérrimas modelos não poderiam, mesmo que gostem, tomar refrigerantes. Que, afinal de contas, não servem para nada a não ser aumentar seu peso e diminuir seu valor comercial.



2 comentários:

Diversidade Sexual disse...

Ótimo!!! Imaginário coletivo hegemônico brasileiro e machista: mulheres e cervejas- combinação perfeita a serviço do prazer masculino!!! Tão recorrente, tão lugar comum.. Vende e dá ibope!!!

Coisas de Ada disse...

Recebi uma piada comparando mulher a cerveja. E o pior é que cada mulher é comparada a uma marca de cerveja! Tem a esposa, a amante, a sogra, a puta, a vizinha. Fazer o quê? O kit venda-para-machos é completo! Acho que devíamos brigar por mostrar a realidade em todos os produtos, e não só uma boca cancerosa no maço de cigarros. Imagine um pênis flácido pendurado no rótulo da cerveja?