quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O SUS segundo a Globo

Sempre que posso (ou tenho paciência) assisto alguns programas da globo. Hoje esperei pelo "profissão repórter" para ouvir o que seria dito a respeito do SUS. A reportagem, é óbvio, mostrou pessoas insatisfeitas, mal-atendidas, recebendo um tratamento indigno e desumano. Falta de vagas, de equipamentos, desatenção dos  trabalhadores, enfim, o SUS foi mostrado como o pior serviço de saúde existente.
Já utilizei e utilizo o SUS. Já paguei, e hoje me recuso a pagar, um plano de saúde. O mais caro dos oferecidos em convênio com minha Associação de Funcionários. Parei de pagar quando, num dos melhores hospitais de Porto Alegre, tive um diagnóstico de "gases", e na verdade desenvolvia uma pielonefrite, perigosa infecção renal, que me hospitalizou por uma semana. O diagnóstico correto foi dado justamente num serviço de pronto-atendimento do SUS, com a infecção piorada por medicamentos ineficazes e dias sem tratamento.
Concordo que o SUS tem muitos problemas. Tem falta de trabalhadores, tem médicos que são contratados para trabalhar 40 horas e trabalham 30, os que tem contrato para trinta trabalham 20, e qualquer tentativa de mexer com isto vira guerra e greve. Concordo que existem filas, falta de vagas, que determinadas especialidades custam tempo para prestar atendimento. Que por vezes, trabelhadores espremidos por jornadas estendidas e baixos salários não são exatamente gentis. E que isto deve ser cobrado, deles, dos gestores, dos governantes.
O programa denuncia a falta de médicos no interior. Mas não pergunta quantos médicos se dispõem a sair da capital e trabalhar em pequenas cidades. Nem cobra a necessidade de aumentar os programas preventivos, de traçar planos que muito além de tratar a doença, promovam a saúde.
O programa da globo, como era de esperar, não mostram que o Brasil é um dos únicos países do mundo que possui um sistema de saúde universal. Que nos países ditos de primeiro mundo a saúde é paga ou não existe. Ou alguém já ouviu falar de saúde gratuita nos EUA, na Europa? Não, nem pode. Saúde nos "desenvolvidos" é toda privatizada.
Que, afinal de contas, pelo que mostra a reportagem, seria a solução. Afinal, os planos de saúde estão aí mesmo, com seus consultórios de poltronas estofadas, faturando alto. O SUS acaba sendo mostrado como coisa de pobre, de quem não tem como pagar um plano, de quem não dá valor à vida. Ter plano dá status, mesmo que os mesmos médicos que atendam nos planos trabalhem também para o SUS. Bem, se a consulta no consultório recebe mais atenção nossa obrigação é de cobrar, deste profissional, o respeito ao paciente atendido e um comportamento ético. Se vai demorar para mudar esta mentalidade? Pois quanto mais protelarmos estas ações, mais custará a acontecer.
Não se fala nisto, mas a cada paciente atendido em hospitais privados pelos planos de saúde, boa parte do atendimento é cobrado do... SUS! Medicamentos, procedimentos não previstos pelos planos...
O SUS tem problemas.O atendimento, por vezes, demora. Mas apenas criticar e mostrar mazelas não ajuda em nada resolver os problemas. Conselhos de usuários, pressão nos governantes por mais investimentos, aumento do quadro de trabalhadores, salários dignos, estas são as providências necessárias. E pressão por parte dos usuários, não nos trabalhadores, mas nos gestores e nas políticas de atendimento.
Concluindo, estranhei que no final do programa global não tenha sido exibido um comercial de algum dos tantos planos de saúde que são mostrados como o ideal de atendimento. Mas logo em seguida, no primeiro intervalo do programa seguinte, lógico, apareceu.


Um comentário:

Márcia F. disse...

Pois é, Regina, tanto se tem feito por esse país para proporcionar atendimento à população na área da saúde e a Globo sistematicamente ignora isso, ou melhor, combate o SUS para favorecer a medicina privada. Claro que problemas existem, e muitos, mas há, igualmente, muitas conquistas e muitos trabalhos exitosos. A população que utiliza o SUS sabe disso!