domingo, 2 de agosto de 2015

RS: Um Barco à Deriva

O Rio grande do Sul passou por vários governadores. De alguns, lembro, outros conheci pela pesquisa e estudo. Poderia flar de vários deles, dos nomeados pela ditadura, dos eleitos pelo voto. Pelo voto, o primeiro foi Jair Soares, num tempo de proibição de coligações e muitos recursos e apoios para sua campanha. Lembro bem de como a Brigada Militar tratava sindicalistas, manifestantes, etc. Lembro a ferocidade policial. Lembro depois dele, Pedro Simon e a estagnação do RS. Do luxuoso banheiro reformado por Alceu Collares, na ala do Palácio Piratini, enquanto o estado passava por uma grave crise financeira. Da sanha privatista de Antônio Britto, que tanto vendeu nosso patrimônio que nem precisou mais recorrer a algum cargo eletivo. CEEE, CRT, CORLAC, eram empresas rentáveis, que careciam de planejamento e investimentos para oferecer melhores serviços, mas rendiam lucros ao estado. Fechou a COHAB, a CINTEA (estradas alimentadoras) para abrir mercado aos pedágios. Da zebra que foi a eleição de Olívio Dutra - Epa! - E o dinheiro das privatizações? Pois é... Mas Olívio para mim o melhor governante deste estado, buscou a recomposição da máquina pública, reorganizou o serviço público com planos de carreira, investiu na pequena agricultura, implantou o orçamento participativo, não cedeu à Ford, que queria isenções totais (ou seja, o que seria gerado pelos empregos era bem menor do que o governo pagaria com as isenções.) Recuperou estradas, investiu na saúde. E incomodou tanto o latifúndio e o empresariado, acostumado a mamar nas fartas tetas do Estado que perdeu a reeleição para Germano Rigotto. Que tentou, tentou, mas não conseguiu transformar o serviço público em OSCIPs, nem vender mais nada. Foi outro governo de estagnação, insatisfação e baixíssimo desenvolvimento. Perdeu para Yeda Crucius, que perdeu a calma com a resistência do movimento sindical e popular, que enfrentou sem trégua suas ações e impediram seus pacotes de maldades. Durante sua gestão quem mais sofreu danos foi o ambiente natural do RS, por obra da então presidenta da FEPAN, hoje secretária do meio ambiente. Os arrozeiros gostaram do governo, que chegou a criar a secretaria de irrigação ou coisa parecida, e nunca foram multados por desviar água da Laguna dos Patos, nem de rios, riachos, córregos para manter suas plantações bem produtivas. Depois dela veio Tarso Genro, eleito no primeiro turno, que investiu pesado na saúde, recompôs outra vez a máquina pública, implementou planos de carreira para várias categorias, não fechou nada nem vendeu nada. Ah, não implementou o piso dos professores, é verdade. Mas garantiu a valorização do magistério. E perdeu para José Ivo Sartori. Cavalo azarão, correu por fora, enquanto Ana Amélia Lemos, candidata do latifúndio e da RBS se explicava dos escândalos como de ter sido funcionária fantasma no senado, omissão de bens para o IR. Sartori se elegeu entre declarações estapafúrdias, como "Quem quer piso vai no Tumelero". Sem programa próprio, chamou para sua volta toda a direita disponível. Seu primeiro ato foi aumentar o próprio salário, do vice, secretários, deputados e CC's. Com a reação negativa da população, recuou e abriu mão do próprio salário, mas manteve o aumento para os demais. Como medida de economia, fechou secretarias, como a Secretaria de Políticas para Mulheres, para depois criar o departamento de assistência, chefiado pela esposa, com status e salário de secretária. As secretarias fechadas foram substituídas, e no final de contas, tudo foi reorganizado de forma caótica, e hoje seu gabinete abriga mais de 200 CC’s. Quando se tenta entender seu modo “gringo” de governar, várias explicações aparecem. Primeiro, sua incoerência. Fazer uma caravana para explicar aos prefeitos e outros que o estado está falido custou uma fábula e não convenceu. Jogar a culpa no governo anterior não colou, depois que as contas do governo Tarso foram aprovadas por unanimidade, também não. Tirar o policiamento ostensivo das ruas e vetar o ingresso de aprovados na área da segurança proporcionou o aumento da criminalidade, sem polícia na rua, quem manda é o crime organizado. E cumpriu a ameaça de parcelar e atrasar salários. Unanimidade estadual, todos querem o fígado do mandatário. Para completar, na véspera de um dia de paralisação de todo o serviço público, Brigada Militar aquartelada, Polícia Civil atendendo somente emergências graves, os demais setores paralisados, bancários com a garantia legal para não correr os riscos, provável paralisação ou diminuição do transporte coletivo, iminência de caos social. O que o governador faz? Viaja para resolver assuntos pessoais. Então, duas teorias aparecem. Primeira: O governador é realmente muito bem assessorado e tem metas a atingir: Já declarou guerra aos trabalhadores, quer o caos para convencer a população a votar SIM no plebiscito que, por lei tem que fazer para privatizar qualquer bem do estadual. E caso saia vitorioso num plebiscito, iniciar a liquidação, à moda Antônio Britto, prosseguir com o arrocho e desmonte da maquina pública. Segunda: O governo realmente não tem projeto, as várias posições brigam entre si, cada qual querendo impor sua visão. E o mandatário foi ao Paraná consultar uma vidente para pedir conselhos. E nem saiu à francesa, fez como os ratos que abandonam navios antes do naufrágio.

sábado, 1 de agosto de 2015

Pervertendo os Conceitos de Democracia

Exite uma confusão na cabeça de algumas pessoas. Entre democracia, imposição, respeito e desrespeito. Democracia não pressupõe atacar com ferocidade quem não pensa igual. Democracia não comporta atacar para destruir quem/o que lhe pareça diferente. Democracia não inclui o uso de argumentos intimidatórios, vis, inverídicos. Democracia tem por princípio básico acatar e conviver com a opinião da maioria. Democracia inclui, principalmente a participação efetiva nas instâncias participativas, presença na luta, construção da resistência na busca por uma sociedade justa, igualitária e fraterna. Ouvi de uma das maiores inteligências vivas deste país algo que hoje me norteia, e de outra inteligência igualmente brilhante, militante na luta pela paz (sim, a paz não cai dos céus), algo que há tempos entendi e assimilei: Não queremos a paz dos cemitérios, queremos a paz dos direitos, da democracia, da soberania (Socorro Gomes), a paz de quem se sente respeitado, incluído, contemplado. E queremos menos ódio, mais solidariedade, menos discriminação e mais tolerância. Queremos o entendimento que os diferentes não são desiguais, que qualquer forma de discriminação e/ou perseguição são expressões de barbárie e ignorância. Queremos um mundo sem imposições de modelos (Leonardo Boff). Sem querer (nem poder) me igualar a eles, incluo: Queremos um mundo onde as denúncias tenham fundamento, as verdades sejam explicitadas, onde aqueles que só falam falem algo de útil. Um mundo sem intrigas nem despeitos, onde pessoas declarem seus pensamentos e intenções sem disfarces. Um mundo onde o essenciall seja a construção de um novo mundo. Bueno, isto dito, fica a reflexão: O ódio político, o preconceito e a intolerância não seriam, na verdade, sinais de que algo não vai bem no íntimo e na vida de quem odeia, discrimina, difama e ataca? Alguém de bem consigo mesmo age desta maneira? De onde vem a irracionalidade deste rancor contemporâneo? Esta intolerância, este desespero com a ascenção alheia, esta raiva da classe historicamente subjugada e desfavorecida, surge como? Os lobos, em suas matilhas, tem mais solidariedade entre si do que nós, humanos, temos entre nós. talvez estes sentimentos, este ódio social que se esparrama e enraíza por toda a sociedade tenha como maior causa o medo. De reconhecer e enfrentar as próprias fragilidades, medos e incapacidades. Ou o que mais seria?

domingo, 26 de julho de 2015

Abrigos que não protegem, Jornais que desinformam

Na edição de 26 de julho, domingo, jornal Zero Hora, encontro uma reportagem sobre a abrigagem e seus problemas. Onde? Tecnicamente falando, em três abrigos do município. Mas a chamada de capa cita “...tutela do Estado...”, que, com inicial maiúscula sabemos se referir ao poder público, mas capaz de causar uma propositada confusão entre a rede municipal ea rede do estado do Rio Grande do Sul. A capa da matéria fala em “Casas nada especiais”. Cita rapidamente os abrigos da rede municipal, e a partir daí uma torrente de tendenciosidades se abate sobre casas, trabalhadores, e até sobre a morosidade da justiça. A única exceção no mar de lama parece ser a juíza Sonáli Zluhan, única virtuosa entre educadores que mais lembram predadores. Segundo a reportagem, o sonho da juíza é fechar os três abrigos municipais. Os trabalhadores são apresentados como relaxados (...rapidamente os funcionários tentaram limpar o local...), e sádicos (...meus filhos estão em casa... bando de loucos que precisam de remédios...não temos que amar vocês...). São locais feios, frios, imundos, sem brinquedos, com livre entrada e saída, onde os “castigos” impostos incluem proibição de comparecimento à escola. Nas cinco páginas da mesma reportagem é feita uma confusão entre atribuições do serviço social, pedagógico, psicológico, de apoio e dos agentes educativos. Todos no mesmo balaio, incluindo os burocráticos trâmites do judiciário. Um dos subtítulos fala da FPE, e apresenta um caso de evasão. A resposta do trabalhador ao juiz (...acolhimento não é lugar para contenção...) segundo o jornal “irrita a juíza”; A parte que se refere à FPE representa menos de 20% da reportagem, que segue, a partir daí, sem especificar quando fala da FASC ou da FPE. E de forma maliciosa, cita a opinião de um desembargador: O sistema de acolhimento não funciona. Seguramente, quem escreveu este texto o fez distorcendo muitas coisas e omitindo muito mais ainda. No pequeno trecho que cita a FPE não tem uma única linha sobre nossos abrigos. Sobre a dedicação de trabalhadores, de como nosso trabalho é afetado por decisões políticas de direções indicadas a partir de critérios partidários. Dos riscos que corremos, do imenso esforço individual e coletivo para que nossos acolhidos recebam respeito, educação, carinho, assistência, enfim, dignidade. Então, noticiado desta forma, a população decerto até pode achar bem-feito o atraso dos salários de trabalhadores da FPE! E apoiarão, certamente, quaisquer iniciativas no sentido de entregar para a iniciativa privada, impulsionar o programa de famílias substitutas, e daí para a redução da idade penal, é um passo. Porque ou os acolhidos são apresentados como crianças vítimas de maus tratos por parte dos trabalhadores, ou de drogados incorrigíveis, pequenos marginais quando adolescentes. Na prática, a proposital confusão entre FASC e FPE nos mostra explicitamente proposta do Governo através de sua porta-voz, a RBS: Se a rede pública não funciona, que venha a privada! E cada vez mais, me convenço que o jornal citado falta com a verdade. Concluindo, só mesmo uma matéria tendenciosa e privatista como esta para me fazer retomar o blog que estava parado desde 2013.