quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Trabalhador da FASE sofre risco de vida em resgate de infrator.

A morte passou perto, muito perto, de três trabalhadores da Fase (Fundação de Atendimento Sócio-Educativo) na última sexta-feira, dia 02 de setembro, aqui em Porto Alegre. Uma técnica em enfermagem, um educador que fazia as vezes de motorista e outro educador conduziam um adolescente internado em uma das unidades da Fundação. Carro: Uma antiga Kombi. Coletes a prova de balas: Nenhum. Escolta policial: Não. Armas: Os trabalhadores da FASE não tem permissão para usar. 
O adolescente em questão foi resgatado por uma moto em um carro, que interceptaram a velha Kombi, sem nenhum equipamento protetivo para a finalidade. Um dos trabalhadores, obrigado a descer do veículo, foi espancado, teve os pés esmagados pela moto, sofreu escoriações generalizadas, mas sobreviveu. Os outros dois, sob a mira de armas, nada puderam fazer.

Silêncio por quê?
Não foi a primeira vez que este tipo de resgate ocorre com adolescentes infratores em deslocamento. Na gestão passada este tipo de informações eram terminantemente proibidas de divulgação, sob pena de graves sansões aos trabalhadores que resolvessem publicizá-las.
Quando soube do fato, resolvi procurar na imprensa alguma informação. Nada. A imprensa ou não soube do fato, ou não deu importância. Sites: Nada. Google: Apenas textos de antigos resgates, por ironia, escritos por mim anos atrás.
Silêncio dos trabalhadores e nada de informações, resolvi ligar aos colegas da Custódia. Fulano? Não, Este? Não, Aquele? Não. O Núcleo específico de Custódia, que antes conduzia adolescentes e educadores, que antes dispunham de mais de vinte trabalhadores, hoje conta com seis. E ninguém quer falar. Mas a quase dissolução do núcleo, com envio dos trabalhadores para outras unidades aconteceu este ano, de forma intempestiva. Foram avisados numa quinta-feira que na sexta haveria uma reunião, e na segunda já estavam transferidos.

A mudança de tipologia, herança neoliberal
Lembrei que uma das reivindicações que estão sendo negociadas trata justamente de equipamentos para esta finalidade. O núcleo de custódia dispõe, há tempos, de quatro ou cinco coletes à prova de balas, doados pela BM, em péssimo estado. Os carros são antigos, alguns do ano 2.000, sem a necessária manutenção.
Além disto, não é levada em consideração de que a tipologia dos adolescentes atendidos hoje foi agravada. Como a criminalidade em geral, a cultura da violência gerada pelo neoliberalismo, o crack. Os adolescentes autores de atos infracionais estão envolvidos em crimes mais sérios, sofrem crises de abstinência dentro das unidades. São cada vez mais adolescentes, que já vem da convivência com adultos infratores, com as leis do tráfico. E cada vez mais trabalhadores, coagidos a estender sua jornada de trabalho para garantir a já pouca segurança de colegas e adolescentes.
Aqui o link de um texto que escrevi em 2008:
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=38736&id_secao=9
A superlotação continua, e o tão esperado concurso público deu lugar, cerca de dois meses atrás, a uma contratação emergencial. No início do ano várias medidas foram anunciadas, mas até agora nada foi concretizado.


Trabalho essencial, mas não reconhecido
Então lembrei dos anos que trabalhei na área infracional, e depois, durante o desmonte da antiga FEBEM, de minha opção pela FPERGS. Que com todos os seus problemas, mesmo tendo sido objeto de barganha política, com sua também superlotação, ainda sem o esperado concurso público, ainda é menos arriscada do que a FASE. Certo, a FPERGS eventualmente recebe egressos da FASE, mas acertei na opção.
Mas e quem ficou, e continua esperando por soluções, por condições de trabalho, pelo reconhecimento de seu esforço? Bem, estes... continuam esperando.
Não consegui falar com o colega agredido, mas espero que recupere-se rápido. Já sofri agressão física trabalhando, em 97, no antigo ICS, e sei que maior do que a dor no corpo é a angústia de saber que no retorno tudo continuará igual,. E que ontem fui eu, hoje é este, e que inclusive mortes já aconteceram neste trabalho por falta de condições, ou de vontade política, ou descaso com nossas reivindicações.
O que eu não esperava era a continuidade do silêncio e do "nada houve",  tão denunciado há tempos atrás.

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