quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Nos Templos do capitalismo não existem relógios!

Certamente a imensa maioria das pessoas hoje já visitou um Shopping Center. Shoppings viraram lugar de lazer, de alimentações, passeios e, claro, compras. Pessoalmente, não costumo visitar shoppings, a não ser alguma compra já decidida, geralmente  promoções que em ruas de comércio não encontraria.
Nas parcas vezes em que frequenteis estes lugares, sempre foi um em especial, o mais próximo de casa, e nunca havia parado para observar comportamentos. Mas em função de trabalho, quando precisei acompanhar um adolescente portador de necessidades especiais a um passeio dirigido, onde ele permaneceria duas horas com os professores de sua escola, resolvi aproveitar para conhecer um deles, talvez o maior e mais chique de Porto Alegre. 
Em zona nobre, o imenso centro comercial (sou brasileira, né?) tem tudo o que pode ser vendido. Tem lojas, quiosques, praças de alimentação, estacionamento, lotéricas, praça infantil para que os consumidores ali deixem as crianças que poderiam encurtar sua estada lá dentro.
Tique de antropóloga ainda não formada, transformei meu "passeio" em estudo. Sentei em uma mesa do gigantesco parque de alimentação, mas antes paguei R$ 4,00 por um cafezinho. E de lá, observei atentamente o comportamento dos frequentadores. 
Pessoas muito bem vestidas circulam entre centenas de segurança. Algumas, que me pareceram executivos, com seus lap-tops também sentados usam seus celulares de última geração. Os preços dos alimentos são astronômicos, coisa que parece não incomodar pais e mães com crianças devorando fast-foods, repetindo pedidos, ganhando brindes. Atendidos por adolescentes que são "colaboradores" e não vendedores.
Nas lojas de grifes, os trabalhadores são, via de regra, brancos. Os seguranças e limpadores não, entre eles muitos negros. Nas lojas, artigos com preços inacreditáveis: Bolsas por $ 2.000 reais, tênis pelo mesmo preço. Uma saia, que achei bonita: R$ 600. Tudo é muito caro, artigos de nem tanto luxo, mas com etiquetas que valem, só elas, muitas e muitas vezes o preço do artigo. E lojas de bugigangas, de inutilidades, de supérfluos, de inutilidades. Mas que não se chamam R$ 1,99, são lojas de novidades. 
Em shoppings não existem relógios. Não é conveniente que quem lá está se dê conta da passagem do tempo. A iluminação é totalmente artificial. Lá dentro, não se vê a passagem do tempo. A climatização excelente traz a sensação de bem-estar. Segurança total, vi quando dois meninos negros, roupas limpas mas ostensivamente baratas, foram convidados, nem tão gentilmente, a se retirar. Afinal, a segurança está ali para garantir a total despreocupação dos consumidores.
Duas horas foram suficientes para me fazer pensar em tão cedo não voltar a pisar nestes locais. Amigo de tempos, o presidente do Sindicato de comerciários de Taquari, Vítor Espinosa, muitas vezes já me falou dos horários exaustivos, dos ridículos salários, do assédio moral que sofrem estes trabalhadores. E confesso que, eu de tênis, jeans, camiseta e mochila da Universidade, também fui meio que "monitorada".
Então pensei que cada doutrina tem suas igrejas, seus templos.
E que no Brasil, as igrejas não pagam IPTU, entre outros impostos. Claro que as terreiras que professam as religiões afro-brasileiras dificilmente conseguem se beneficiar da lei.
E fiquei a imaginar se, qualquer dia destes, os shoppings não serão beneficiados pela lei, já que verdadeiros templos da doutrina capitalista, e suas práticas religiosas de consumir o que não precisam.
A propósito: A imagem acima eu copiei de um site todo ele dedicado ao consumo.

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