terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ideologia impregna, sim!

Falei hoje, pelo msn (ah,modernidades...) com um grande amigo, daqueles parceiros, que conheci no início da década de 90. Passamos juntos no mesmo concurso, o da antiga FEBEM, hoje FASE.
Trabalhamos juntos em uma casa que atendia adolescentes autores de ato infracional. Trabalho pesado, difícil. Juntos, passamos por situações difíceis. Direções autoritárias, falta de trabalhadores, motins, tensão. Tempos difíceis, governo neoliberal Britto.
Por estes tempos eu estava na direção da Associação de Funcionários. Nosso Sindicato, SEMAPI RS, começava a aplicar a conquista de dissídio, Representação por Local de Trabalho. Meu colega foi eleito.
Combativo, atendeu com competência aos desafios que apareceram.
Mas a vida dá voltas. Família grande, salário pouco, outro colega aventurou-se nos EUA. Escrevia contando maravilhas. E lá se foi nosso Representante Sindical, tentar a vida como imigrante.
Hoje ele não fala, mas sei que penou. Servidor público que era, virou peão da construção civil. Época de muitas construções, quando a bolha imobiliária estourou e a crise chegou, virou assador de "churrasco brasileiro" no país dos yankees.
Hoje, com um filho nascido lá, obteve cidadania.
E depois de muito remar contra a maré, incorporou o espírito 'americano'. Da livre-concorrência, do mercado, das maravilhas da competição. Acha o máximo poder trocar de lap-top todo ano, louva o vale-leite (que eu nem sabia existir por lá), e como nunca mais voltou ao Brasil, alimenta-se das notícias que a Globo leva até lá. Que pelo jeito são as piores, e ainda distorcidas. Segundo ele, o que chega aos EUA são informações sobre a violência, tráfico, corrupção, prostituição, mazelas e mais mazelas. Que o povo hoje vive de bolsa-família, seguro-desemprego.
Coisas que quem assiste a Globo por satélite acredita.
Mas e os acampamentos de Wall Street? "Aqui, só trabalha quem não quer", diz ele. E a repressão? E a violência? E os sem-casa, sem-trabalho, sem-saúde? Ele desconversa.
E eu fico pensando: Onde foi parar o companheiro de lutas? Cadê o sindicalista? O cara, aquele, que brigava por uma vida melhor? 
Pergunto se não sente falta do Brasil. Sim, ele sente falta da solidariedade, da alegria, do companheirismo. Acha estranho as pessoas por lá não oferecerem carona. Vizinhos vão ao mesmo local, cada um com seu carro. Os que ainda tem carro. Mesmo com a gasolina lá estar pela hora da morte.
Enfim, mesmo com a alegria de ter reencontrado um grande e bom amigo, o que resta é a tristeza de constatar que a ideologia dominante impregna, convence, transforma. Que a sedução do consumo consegue subverter valores. Que o poder midiático tem o poder de sufocar ideais. Que a falta de formação sólida permite a transmutação de um sindicalista atuante em arauto das virtudes neoliberais. 
E pensar que tudo isto acontece no país-títere do capitalismo, gerador  da maior crise econômica do planeta... Com um ex-sindicalista, que chegou a pensar em mudar o Brasil.

Um comentário:

Anônimo disse...

Me parece obvio que faltou formação ideologica para o bom moço dos ideais da juventude transviada da epoca citada, alias falta formação em tudo quanto é lugar e em qualquer tempo em nosso país.
Os governos em todos o niveis se elegem com o discurso da educação e depois esquecem da promessa e ai vem as redes Goebbels e fazem a cabeça da rapaziada... é aquele refrão de sempre: FALTA DE CULTURA PARA ROMPER COM AS ESTRUTURAS em todos os cantos da sociedade imunda que vivemos.
Flávio Maia...Caxias do Sul RS