domingo, 10 de julho de 2011

Dos tempos da Osvaldo em 80

Acho que nasci querendo tocar violão, mas por volta dos 12 ou 13 anos ganhei um de presente de natal, e aprendi alguns acordes. Pedia para um ou outro que soubesse, e fui tocando. Teve um tempo que tocava quatro, cinco horas por dia. Mas nunca fui uma "violonista".  Tocava algumas coisas, treinava acordes "difíceis". Lembro de ter entortado um dedo, uma vez. Tive que engessar. Acho que era da insistência.
Tinha meus próprios critérios para definir os acordes: bons, fáceis, bonitos, chatos, impossíveis de fazer, etc.
Pela metade da década de 70 apareceu uma revista chamada VIGU - Violão, Guitarra. Foi indescritível, a descoberta da pólvora, da roda, algo assim: Ali estavam os acordes, os sustenidos, os dissonantes. Com certeza, uma de minhas maiores descobertas. A música se tornando algo decifrável, embora nem tão acessível.
Como sempre gostei de escrever, comecei a juntar letras nas músicas. Coisas bem fora do senso comum: Acho que nem sei direito o que rolava de comercial na década de 60: Sei que, sabiamente, ao invés de assistir Jovem Guarda, quando criança, meu pai  sintonizava a antiga e pesada TV P&B, daquelas que tinham portinha para fechar quando desligada, O Fino da Bossa. Vai daí que em 70, em vez dos Tell me Once Again, eu ouvia Caetano, Chico, Pink Floyd e Yes.
Durante os anos 80, a música de garagem no RS permitiu várias tentativas de bandas. E lá estávamos nos.
Primeiro com a Merlin Morreu, Ricardo Barão, Ângela (os dois já se foram, que saudades...), Paulo, Maurício e eu. Na guitarra. Rock anos 50, um pouco de crítica social, muito deboche. A Av. Osvaldo Aranha, Ocidente e Fim de Século ferviam. Os punks chegaram por aqui com quase uma década de atraso, neonazistas que não sabiam nada de nazismo, metaleiros... Enfim, nesta época o Bom Fim tentava sepultar os raros sobreviventes aspirantes a hippies, que nem bem sabiam o que tinha sido o movimento, mas gostavam da estética do movimento. Enfim, pouca gente entendia o que acontecia, mas muita gente participava e levava tudo isto muito a sério.
Depois, Daskrimi. Muito boa. Os acordes de Fabriano Rocha  no baixo, ah, nunca vi alguém tocar baixo como Fabri. A guitarra de Luki, quase diáfana. Dois bateristas: Cabeleira e Luciano.
Nossa música era uma cruza de quatro diferenças. Era boa, muito boa. Nada comercial. Mas fizemos bons shows. E era um prazer, um delírio toca, ensaiar. As criações eram coletivas, a partir de alguma letra, geralmente escrita por mim. Era tudo ao mesmo tempo, todos montando a música.
Depois, a vida cobra opções, tempo, sobrevivência. E era, como é ainda, muito difícil viver de música.
Coisas e anos passam, passam, e os contatos se perdem.
Pois incrivelmente, quase ao mesmo tempo, encontramo-nos todos os Daskrimi.
Aguardem os scanners do portfólio. Esperem pela digitalização da fita-ferro, coisa das modernérrimas na época.
Por estes dias, devemos nos encontrar. Todos, ou quase. Espero todos.
Para completar, falta encontrar Caio Gomes e Marcelo Fornazieri. Ah, e, claro, o Jéferson, da Atrack, a outra Ângela, nossa produtora.
Se este povo se juntar outra vez, será certamente um dos melhores e mais importantes momentos de toda a minha vida, por toda a minha vida.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bons tempos...

flávio disse...

Nunca pensei que voce era remanescente desta epoca riponga, Nunca pensei que voce gostasse de Pink Floyd,
Nunca pensei que voce gostasse de viajar nos cosmos sem gazolina,
Nunca pensei, alias a gente nunca pensa nas possibilidades de outrora....
Minhas lembranças da epoca foram numa sociedade alternativa rural que aqui não é possivel decifrar o quanto foi especial esta experiencia socialista porque não dizer, afinal eram varios jovens rompendo com o status familiar da hipocrisia social da ditadura, mas enfim bacana saber que voce é musical.....a proposito vc esteve no show do Roger Waters no OLIMPICO em meados da decada de 80???
Flávio Maia
abs