sábado, 16 de julho de 2011

As mulheres nos primeiros tempos de Brasil



E o Brasil é “descoberto”

Quando, em 1500, os portugueses invadem o continente recém “descoberto” e para cá enviam os degredados, criminosos e aventureiros, certamente pouquíssimas mulheres havia entre eles. Os homens que para cá vieram foram responsáveis por estupros, raptos e inúmeras violências contra índias, o que resultou na imensa miscigenação do povo brasileiro. O território só começou a ser efetivamente colonizado em meados do século XVI, e a sociedade que havia se instalado aqui era nada semelhante à metrópole. O número de casamentos formais não chegava a 20% e acontecia preferencialmente entre classes abastadas, de forma a garantir o patrimônio das famílias. Não havia obrigatoriedade de indissolubilidade dos “casamentos”, e com isto estabelecia-se uma maternidade informal, quase matrilinear, uma vez que o cuidado com os improdutivos voltava a ser coletiva: mães, avós, tias, vizinhas, todas compartilhavam do cuidado e da educação de todas as crianças. As famílias estabelecidas formal ou informalmente sofriam constantes rupturas causadas pela necessidade da interiorização, desbravamento e ocupação de territórios e da caça de índios para a escravidão. Isto fazia com que os agrupamentos de mulheres que permaneciam nos povoados assumissem  outros filhos,  de eventuais novos companheiros ou  órfãos, sem diferenciação das outras crianças.antes que as malfadadas rodas de enjeitados fossem instalados. 
A chegada dos mandatários portugueses e do clero, com a finalidade de instalar a dominação portuguesa e moralizar a colônia trouxe com ela toda a carga de preconceitos da Europa medieval, ainda reinante no Portugal da época. A primeira providência foi a remodelação do papel da mulher e a instituição do casamento, instituindo altas taxas para os concubinatos, enquanto os preços dos casamentos eram simbólicos. As uniões pré-maritais eram sabidas, embora não admitidas; num momento em que o povoamento da colônia era fundamental, a fecundidade era condição para o matrimônio. Só que inteiramente atribuída à mulher, uma vez que a própria medicina avalizava a idéia. Por isto o sexo antes do matrimônio, tolerado discretamente  quando efetivamente resultante em gravidez. Caso a gravidez não ocorresse, dependendo do nível sócio-econômico da “noiva”, o casamento poderia ocorrer, mas sem a obrigatoriedade de sexo, ficando neste caso o homem tacitamente “liberado” para o sexo e procriação com outras mulheres, ocorrendo algumas legitimações de paternidade para garantia da transmissão de patrimônio.

Durante o primeiro período da ocupação européia no Brasil, e devido à precariedade de condições, as mulheres ocupavam-se de tarefas ditas masculinas. Com os homens passando longos períodos longe dos povoados e vilas, coube a elas providenciar condições de sobrevivência. Eram comuns mulheres ferreiras, caçadoras, criadoras, agricultoras. Assim como cabia a elas o cuidado com os improdutivos: Crianças, idosos, doentes. E desta forma, desenvolveram em contato com índios escravizados a medicina primitiva, tornando-se parteiras, enfermeiras. Raríssimas  mulheres eram alfabetizadas, e estas tentavam repassar os parcos conhecimentos. Enquanto os homens da colônia se embrenhavam Brasil à dentro, foram estas mulheres q1ue administraram as vilas, criaram seus e outros filhos, resolviam problemas, e muitas vezes pegavam nas rudimentares armas para proteger suas cidadelas.

Quando os homens retornam do interior, a exemplo dos europeus que sobreviveram às Cruzadas, reassumem seus papéis. A mulher no Brasil colonial, ser submetida à opressão masculina volta-se para o domínio que lhe é reservado: torna-se parteira, curadora, cuidadora. A ela foram destinadas as tarefas da casa, de filhos, e, dependendo das classes sociais, desenvolver em paralelo o serviço de agricultora, artesã, sem remuneração, uma vez que assumia empreitadas tratadas pelos maridos.  Confinada ao lar, passa a desenvolver a observação cuidadosa da natureza, assimilando conhecimentos específicos sobre plantas, ervas, doenças; Enfim, tudo o que requeria observação e persistência. Desta forma, acumulando conhecimentos fundamentais para a sobrevivência, Data deste tempo a institucionalização dos prostíbulos na colônia, tolerados por fatores como a preservação da moralidade cristã e pelas pesadas propinas que pagavam para as autoridades que lhes faziam vista grossa. Com a crescente influência do clero, nos estertores da Inquisição, a moralidade religiosa desestrutura as famílias matrilineares ainda existentes e impõe sua pesada carga moral.
A partir daí, institucionalizam-se também na colônias duas figuras femininas simbólicas: a mulher-mãe, virtuosa, casta (que se entrega para cumprir seu papel, mas sem usufruir do prazer pecaminoso), e da prostituta, a mulher, sexuada, alegre, sempre disposta e disponível. Desde que não fossem suas filhas, irmãs ou parentas. 

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