domingo, 2 de agosto de 2009

Do jeito de escrever.

E aí vem aquela coisa que nem é tristeza nem é angústia nem e raiva nem nada. É bem isto, é nada.
É arrastar aquela saudade de ter algo que nunca se teve. Alma, por exemplo. Daí eu lembro que nunca precisei de alma para escrever, e então escrevo, e as palavras se amontoam na minha frente, elas se despedaçam pelos meus dedos e por meus olhos, elas brigam como peixeiros em busca do melhor lugar para sua venda ou sementes enlouquecidas por sol para germinar. As palavras me obrigam a vomitá-las sem piedade, arrancam nacos de carne de minha garganta, e só sossegam quando já estão todas ali. Depois é só trocar um acento cá, ou uma vírgula esquecida. As vezes, não entendo por que no meio do texto o final já está gritando, e o início quer ser recomeçado. é uma confusão. tudo embolado. Só as vírgulas, os pontos e alguma letra que se perdeu.
É quando então as palavras todas, as frases, os parágrafos, o texto inteiro me olha como fosse quase uma colegial arteira, mas nada parecida com o bicho deseducado que me tira do sério sem o menor constrangimento; que não fica quieto, que não obedece por nada. É assim que eu escrevo. Tem quem chame a isto de processo criador.Eu chamo de loucura criativa.

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