domingo, 9 de agosto de 2009

Sorridentes flores amarelas? sei...


Um dos poemas mais bonitos que eu penso ter escrito foi por 82. Estava completamente apaixonada, naquelas situações em que tudo sorri: Campanha eleitoral, cursava FAMECOS, tinha saído à noite para fazer minha primeira colagem, aprendido que misturar polvilho com água e soda cáustica faz cola. Meio que perdida por um lugar que mais tarde ficou muito conhecido para mim, mas naquele momento era totalmente desconhecido, no extremo sul de Porto Alegre. O candidato esteve conosco a noite toda, colando junto e carregando o material, já que o único veículo disponível era... uma bicicleta. Que ficava controlando a Brigada Militar. Enquanto colávamos, falávamos baixinho. De Marx, Lênin... Coisas meio misteriosas, ainda nos anos oitenta. Bueno, lá pelas quatro da manhã, acabaram-se os cartazes (feitos de jornal e telas de serigrafias), a cola e o cansaço bateu.
Dormimos todos na casa do candidato, eu e o namorado ainda com o privilégio do sofá da sala. Um setembro de pouco calor e raras cobertas, que nem fizeram falta, e no outro dia aquele cheiro de café passado, pão de meio-quilo com chimia de abóbora. Fogão de lenha, coisa de sul. Sorriso largo e muitas, mas muitas flores amarelas por todos os terrenos baldios e raras calçadas da vila popular. Sorridentes flores amarelas, sorridente ano de 82, um dia posso achar e postar o poema. Até acho que sei onde está. Mas não se faz mais cola como antigamente. De mais a mais, o terreno onde ficavam as casas, as paredes, as flores e o resto virou um grande loteamento, e as flores amarelas, nativas que são, perderam lugar para alguma espécie exótica que certamente vai adornar os condomínios milionários que hoje são a febre de nossa zona zul.

2 comentários:

Soninha disse...

Pois é, Rê! Não se faz mais cola, candidato, pão de meio-quilo, flores amarelas e tantas outras coisas que rendiam belas poesias... Que pena!

Unknown disse...

Eu sei bem o sentimento das flores amarelas. Minha casa é lotada por elas, vindas nas mãos tímidas, cheias de poesias e nos olhos cheios de carinhos...ai...que saudade...