sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Reflexões sobre a negociação salarial

Por vezes, a visão idealizada de movimento termina por transformar-se em retrocesso. Dizia um grande camarada, querido amigo, já não entre nós: Só tem  desilusões quem se deixa iludir.
Falo de minha categoria, trabalhadores das Fundações estaduais, de alguns poucos que, indignados com o resultado das negociações salariais de nossa data-base, não reconheceram o momento de recuar para prosseguir avançando. 
A ilusão de que um Governo de esquerda traria imediatamente a resposta para todas as  reivindicações dos trabalhadores que o elegeram. Que todos os problemas estariam resolvidos.
Depositar todas as energias na esperança de uma mudança radical a partir de uma eleição só pode mesmo terminar em frustração. Governo eleito, seja qual for, mesmo o mais extremado socialista, vira PATRÃO. Um patrão com quem pode ser mais fácil negociar avanços sociais, que provavelmente não tratará sindicalistas como bandidos, tal qual fez o governo anterior. Por favor, governador, Brigada Militar, prisões, guarita em frente ao palácio,  processos por injúria, ah, isto não. Certamente não.
Um governo de quem, apesar de pesares, arrancamos a melhor negociação dos últimos oito anos.
Mas ainda assim, um governo atrelado a compromissos e acordos com quem lhe garantirá governabilidade. Mesmo que não gostemos dos parceiros e das "composições". Pessoalmente, detesto várias delas.
Um acordo que privilegiou os trabalhadores mais precarizados da categoria, que reconheceu uniões estáveis inclusive do mesmo sexo, ampliou a licença-maternidade e paternidade, que aplicou aos salários o INPC do período. Que trouxe consideráveis avanços em cláusulas sociais.
Certo, não tivemos aumento real, não recebemos a devida retroatividade. Que ruim, Governo Tarso! Faltou um pouquinho só de vontade política. Ficaste devendo, e cobraremos. Ah, certo que cobraremos!
Este não é o Governo de nossos sonhos. Tem problemas, contradições, tem as  alianças que não gostamos. Mas este é o Governo que, felizmente, elegemos.
Esta é nossa categoria. A que aprovou a proposta. Que apesar das precariedades, da falta de pessoal, de recursos, de salários dignos, de reconhecimento, constrói este Estado. 
Uma categoria que não aceita jogar-se em aventuras irresponsáveis, que separa política partidária de política sindical. Que sabe a hora de parar e fazer barulho, muito barulho,  mas que tem a sabedoria de reconhecer o momento certo de parar, recompor as forças e depois retomar a luta.
Nossa, MINHA  categoria, nunca se dispôs a ser refém de uma pseudo-vanguarda que só representa a si mesmo, que não reconhece as próprias limitações, descolada da realidade que a cerca.
Que sequer admite a derrota em uma simples assembléia de negociação salarial, nem a decisão tomada pela maioria de seus próprios colegas.
Enfim, incompreensões, xingamentos e decepções à parte, encerramos a primeira etapa da negociação.
Aprovamos o possível.
O caminho agora é a mobilização. Hoje, quando defendi não a proposta, mas sua aprovação como artimanha para garantir a continuação das negociações, propus embretarmos o Governo. Como? Lutando pela redução da jornada, pelo fortalecimento de nossas Fundações, pela realização de concursos públicos para suprir as necessidades  de pessoal.
Mas depois de uma tarde tensa, já em casa, relendo um velho almanaque de farmácia, embolorado, para descontrair e aliviar a tensão do processo, terminei encontrando uma frase gaudéria que deixo para quem me lê:
Quanto mais barulho faz a carroça, mais vazia está!

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