Não faz tanto tempo assim, só uns 18 ou 17 anos, nos idos tempos em que eu trabalhava num instituto hoje administrado por uma OSCIP. Este instituto, chamado Centro Infanto-juvenil Zona Sul fazia o trabalho preventivo: Cursos, turno inverso, esporte. A má interpretação do ECA e a falta de vontade política do atual governo repassou este centro e dispersou os trabalhadores.
Mas o que interessa dizer aqui é que lá havia um instrutor chamado Heráclito, que montou e coordenava um grupo de....escoteiros.
Algumas vezes eu, este instrutor e cerca de 50 crianças atravessamos o morro, da Cruzeiro à padre Cacique, isto quando ainda havia uma maravilhosa padaria-escola, que abastecia de pão todas as casas da FEBEM de Porto Alegre e formava padeiros e confeiteiros. Levávamos cerca de duas horas, e a travessia era, para as crianças, uma aventura.
Ou seja, conheci ao vivo a tampa do morro que está para ser entregue, a preço simbólico, para a iniciativa privada.
Aprendi a não comentar o que não posso provar. Portanto, não me estenderei em possíveis benefícios e beneficiários. Nem falarei demais sobre os cerca de 12 mil moradores que, não fosse a intervenção do movimento recentemente organizado, seriam simplesmente despejados , dizem. Nem sobre o bioma único que desaparecerá. Mas posso imaginar o bairro que surgirá nos 73 hectares, com nichos de mata nativa, a minutos do centro da cidade, a melhor vista da cidade. Perfeito.
Penso no Rio de Janeiro: Não são só barracos que caem. Penso no bairro luxuoso que pode ser instalado na tampa do morro: Terá até áreas verdes para deleite de quem tiver muita grana para comprar. Penso
Que pobres e infratores não são de bom-tom no caminho da Copa do Mundo. Que, melada a negociata do Pontal do Estaleiro, alguma outra área nobre deveria ser sacrificada para deleite de nossa incipiente burguesia.
E penso naqueles meninos que subiam o morro toda a semana para catar os lixos deixados e cuidar das estreitas nascentes de água do morro.
E concluo que somos pacatos e dóceis demais com os abusos deste desgoverno que, felizmente, finda.
Felizmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário