sexta-feira, 23 de abril de 2010

A venda da Tampa do Morro Santa Teresa

Não faz tanto tempo assim, só uns 18 ou 17 anos, nos idos tempos em que eu trabalhava num instituto hoje administrado por uma OSCIP. Este instituto, chamado Centro Infanto-juvenil Zona   Sul fazia o trabalho preventivo: Cursos, turno inverso, esporte. A má interpretação do ECA e a falta de vontade política do atual governo repassou este centro e dispersou os trabalhadores.
Mas o que interessa dizer aqui é que lá havia um instrutor chamado Heráclito, que montou e coordenava um grupo de....escoteiros.
Algumas vezes eu, este instrutor e cerca de 50 crianças atravessamos o morro, da Cruzeiro à padre Cacique, isto quando ainda havia uma maravilhosa padaria-escola, que abastecia de pão todas as casas da FEBEM de Porto Alegre e formava padeiros e confeiteiros. Levávamos cerca de duas horas, e a travessia era, para as crianças, uma aventura.
Ou seja, conheci ao vivo a tampa do morro que está para ser entregue, a preço simbólico, para a iniciativa privada.
Aprendi a não comentar o que não posso provar. Portanto, não me estenderei em possíveis benefícios e beneficiários. Nem falarei demais sobre os cerca de 12 mil moradores que, não fosse a intervenção do movimento recentemente organizado, seriam simplesmente despejados , dizem. Nem sobre o bioma único que desaparecerá. Mas posso imaginar o bairro que surgirá nos 73 hectares, com nichos de mata nativa, a minutos do centro da cidade, a melhor vista da cidade. Perfeito.
Penso no Rio de Janeiro: Não são só barracos que caem. Penso no bairro luxuoso que pode ser instalado na tampa do morro: Terá até áreas verdes para deleite de quem tiver muita grana  para comprar. Penso
Que pobres e infratores não são de bom-tom no caminho da Copa do Mundo. Que, melada a negociata do Pontal do Estaleiro, alguma outra área nobre deveria ser sacrificada para deleite de nossa incipiente burguesia.
E penso naqueles meninos que subiam o morro toda a semana para catar os lixos deixados e cuidar das estreitas nascentes de água do morro.
E concluo que somos pacatos e dóceis demais com os abusos deste desgoverno que, felizmente, finda.
Felizmente.

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