sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A Cidade e Seus Feudos

Quem já leu, estudou ou pesquisou sobre a Idade Média lembra dos feudos, dos castelos e fortificações onde os abastados protegiam-se das turbas miseráveis e famintas que vagavam pelos caminhos em busca de abrigo e recursos. Quando os indesejáveis aproximavam-se das fortalezas onde protegiam-se senhores, nobres, seus protegidos e outros privilegiados, eram expulsos ou dizimados pelos homens armados que serviam aos interesses destes poderosos.
Arrecadação e repressão formavam a estrutura mínima destes feudos. Impondo e recolhendo o que mais tarde se transformou em impostos, os governantes proviam os exércitos que defendiam a manutenção da ordem estabelecida.
Hoje, em deslocamento para uma reunião da categoria na zona sul de Porto Alegre, revivi os conceitos medievais, ao passar por um dos exclusivos condomínios desta região. 
Em imensa área cercada, lá estava um dos condomínios construídos especialmente para manter à distância os indesejáveis, miseráveis e outros seres que são desagradáveis ao olhar, e que portanto devem ser banidos da convivência dos privilegiados.
A área possui segurança motorizada 24 horas, áreas de lazer com campos de futebol, golfe, piscinas, parque infantil. Possui restaurante próprio, heliporto, centro de compras e até uma escola, particular, lógico, da grife dos melhores estabelecimentos de ensino da cidade.
Para entrar neste pequeno paraíso, o visitante identifica-se e é acompanhado por um segurança até a residência, já previamente avisada.
O condomínio conta ainda com áreas de mata nativa e várias outras comodidades. As casas, de altíssimo padrão, pagam um condomínio astronômico (não repetirei o valor por não ter conseguido confirmar). 
A área que anteriormente era de mata nativa do RS, hoje conta com várias espécies exóticas.
Como na Idade Média, porém, o pequeno paraíso particular é vizinho das regiões mais pobres e desassistidas da zona sul: Vila Teletubies, Bairro Restinga e outras ocupações irregulares.
Que não tem vagas para todas as crianças, os postos de saúde não conseguem atender à demanda, e somente agora assiste à construção de um hospital para atender a população de todo o extremo sul.
O investimento em saneamento, transporte coletivo, iluminação, telefonia, asfaltamento e outros, naturalmente foi pago pelo poder público. 
Cada vez me convenço mais que vivemos, sim, a segunda idade média da humanidade.

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