domingo, 26 de julho de 2015

Abrigos que não protegem, Jornais que desinformam

Na edição de 26 de julho, domingo, jornal Zero Hora, encontro uma reportagem sobre a abrigagem e seus problemas. Onde? Tecnicamente falando, em três abrigos do município. Mas a chamada de capa cita “...tutela do Estado...”, que, com inicial maiúscula sabemos se referir ao poder público, mas capaz de causar uma propositada confusão entre a rede municipal ea rede do estado do Rio Grande do Sul. A capa da matéria fala em “Casas nada especiais”. Cita rapidamente os abrigos da rede municipal, e a partir daí uma torrente de tendenciosidades se abate sobre casas, trabalhadores, e até sobre a morosidade da justiça. A única exceção no mar de lama parece ser a juíza Sonáli Zluhan, única virtuosa entre educadores que mais lembram predadores. Segundo a reportagem, o sonho da juíza é fechar os três abrigos municipais. Os trabalhadores são apresentados como relaxados (...rapidamente os funcionários tentaram limpar o local...), e sádicos (...meus filhos estão em casa... bando de loucos que precisam de remédios...não temos que amar vocês...). São locais feios, frios, imundos, sem brinquedos, com livre entrada e saída, onde os “castigos” impostos incluem proibição de comparecimento à escola. Nas cinco páginas da mesma reportagem é feita uma confusão entre atribuições do serviço social, pedagógico, psicológico, de apoio e dos agentes educativos. Todos no mesmo balaio, incluindo os burocráticos trâmites do judiciário. Um dos subtítulos fala da FPE, e apresenta um caso de evasão. A resposta do trabalhador ao juiz (...acolhimento não é lugar para contenção...) segundo o jornal “irrita a juíza”; A parte que se refere à FPE representa menos de 20% da reportagem, que segue, a partir daí, sem especificar quando fala da FASC ou da FPE. E de forma maliciosa, cita a opinião de um desembargador: O sistema de acolhimento não funciona. Seguramente, quem escreveu este texto o fez distorcendo muitas coisas e omitindo muito mais ainda. No pequeno trecho que cita a FPE não tem uma única linha sobre nossos abrigos. Sobre a dedicação de trabalhadores, de como nosso trabalho é afetado por decisões políticas de direções indicadas a partir de critérios partidários. Dos riscos que corremos, do imenso esforço individual e coletivo para que nossos acolhidos recebam respeito, educação, carinho, assistência, enfim, dignidade. Então, noticiado desta forma, a população decerto até pode achar bem-feito o atraso dos salários de trabalhadores da FPE! E apoiarão, certamente, quaisquer iniciativas no sentido de entregar para a iniciativa privada, impulsionar o programa de famílias substitutas, e daí para a redução da idade penal, é um passo. Porque ou os acolhidos são apresentados como crianças vítimas de maus tratos por parte dos trabalhadores, ou de drogados incorrigíveis, pequenos marginais quando adolescentes. Na prática, a proposital confusão entre FASC e FPE nos mostra explicitamente proposta do Governo através de sua porta-voz, a RBS: Se a rede pública não funciona, que venha a privada! E cada vez mais, me convenço que o jornal citado falta com a verdade. Concluindo, só mesmo uma matéria tendenciosa e privatista como esta para me fazer retomar o blog que estava parado desde 2013.

Um comentário:

Unknown disse...

Regina gostei bastante de tua publicação. É isso aí. Sou trabalhadora da FASC e do SIMPA, sindicato dos Municipários de Porto Alegre e temos muito denunciado o descaso da Prefeitura com esses serviços, com a precarização e a terceirização.Tua matéria representa também nossas preocupações em que este suposto "comprometimento da mídia" tenha outros interesses, principalmente com relação a privatização desses serviços. Somos nós trabalhadores que muito temos denunciado a violação do atendimento a estas crianças e adolescentes e reivindicado mais capacitação, mais agilidade nos trâmites dos judiciário, mais condições materiais e de estrutura. O problema de violação e superlotação existe, tem dimensões complexas, inclusive com muitos limitações do próprio sistema de justiça.