quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A quem serve o aborto clandestino

Aborto é uma ação dura, dramática e dolorosa. Quem já passou por ele sabe. Aborto não é nada que alguém faça de manhã e saia dançando à noite. Aliás, muitos anos atrás, uma amiga fez justamente isto: Um aborto pela manhã e saiu para dançar à noite. O que poderia parecer um descaso com o ato em si revelou-se um ato de sofrimento e culpa poucas vezes tão extremado: Quem a conhecia entendeu seu desespero, que terminou em hemorragia tão forte que nem mesmo a hospitalização horas depois foi capaz de salvar-lhe a vida.
A culpa desta menina (18 anos) de, primeiro ter engravidado, depois ter abortado, sem o mínimo acompanhamento do par responsável pela gravidez,  lhe custou a vida. O homem pai do feto abortado sequer é lembrado pela troupe que abomina a mulher que interrompe a gravidez. Afinal, a quem serve a proibição do aborto? Não será aos médicos e suas clínicas bem equipadas, com anestesistas, enfermeiros, boas instalações? Aos bancos, financeiras ou agiotas que emprestam dinheiro para que os abortos não dependam de talos de mamona, agulhas de tricô ou canos de borracha enrolados em grampos de cabelo?
Agora, como arma ideológica, um batalhão de autodeclarados católicos que só pisam em igrejas para casamentos e batizados, se declaram escandalizados com a possibilidade de uma candidata ser favorável à descriminalização do aborto.
Quem, aliás, regulamentou o aborto no SUS foi o candidato do PSDB, e o fez acertadamente.
Aborto não é agradável, não é bom, não é método contraceptivo. Aborto deixa sequelas, dói, machuca. Mas não tem nada das guampas demoníacas, não é responsabilidade única da mulher, não é método contraceptivo.
É um assunto doloroso até para soletrar. Mas não tem que servir como arma-baixaria para a direita envolver e desmoralizar a candidata que em nenhum momento propôs o aborto com solução para controle de natalidade.
Aborto é a última solução. Aborto não é o programa de Dilma para as mulheres brasileiras. Denúncia de aborto é só mais uma baixaria da direita inconformada com a vitória das forças populares. Porque certamente a maior parte destes que hoje denunciam Dilma como cruel exterminadora de criancinhas antes nunca se preocuparam com as milhares de crianças brasileiras que morreram ao nascer, ou antes de completar um ano, de desnutrição, de falta de saneamento, de falta de atendimento médico. Aliás, quantos deles e delas já usaram as luxuosas clínicas ginecológicas para descartarem gestações indesejáveis e agora mudaram de idéia? Só poderiam dizer os médicos que se dedicam a este trabalho. Mas estes e suas clientes jamais nos dariam seus índices. Eles preferem manter a ilegalidade do aborto e criar lendas sobre Dilma, porque certamente com Serra suas identidades continuarão preservadas.

2 comentários:

ALL XXX disse...

"Aborto não é agradável, não é bom, não é método contraceptivo. Aborto deixa sequelas, dói, machuca. Mas não tem nada das guampas demoníacas, não é responsabilidade única da mulher, não é método contraceptivo.". Essa passagem, afora o erro de revisão que permitiu a repetição da expressão "não é método contraceptivo" explicitou a verdadeira natureza do aborto e do quão doloroso ele é para a mulher e - por que não - também para alguns homens

frei disse...

Relaxa, respira fundo, mas não pira, os lutadores sociais neste momento crucial da vida política brasileira não pode baixar a guarda, como dizia Cazuza: A direita é a guerra e suas práticas aparecem sempre nestes momentos que determinam de que forma a vida dos inocentes vão continuar sendo ceifadas.
continua firme com seu tranco duro e sensibilidade que parece a flor da pele....
Enfim é mais uma batalha, como João profetizava são as encruzilhadas do Brasil.....abraço....fui
ps. vez em quando passo por aqui....