quinta-feira, 1 de julho de 2010

São Pedro do Rio Grande

Ontem foi dia de São Pedro, padroeiro do Rio Grande do Sul. Não sei se as igrejas fizeram alguma atividade, culto, missa, sei lá. Se fizeram, foi só a católica, já que, seguindo a linha protestante, as quadrangulares, universáis, deus é santo ( o que não deixa de ser um rebaixamento da divindade, certo?)e congêneres não cultuam santos.
Aliás, o chamado Batuque também não trabalha com imagens. Aquela Iemanjá magérrima, elegantérrima, pele branca e cabelos pretos, esvoaçantes, foi invenção da umbanda, do século passado, que é uma mistureba de muitas coisas, algumas que nem mesmo eles entendem bem.
O Iorubá, entretanto, obrigado que foi a se mesclar com o catolicismo para poder sobreviver, criou artimanhas para poder continuar a cultuar seus deuses.
E desta forma, Santo Antônio virou Bará Agelú, e São Pedro virou Bará Lodê. A diferença entre ambos é que Agelú é o menino carregado no colo de Santo Antônio, é o orixá criança, e vive na beira dos rios e mares. O outro, Lodê, é o Bará grande, adulto quase velho, que controla os caminhos, as estradas, as encruzilhadas.Esta coisa de sincretismo acabou foi por criar uma tamanha confusãqo, um orixá para cada santo católico, uns nada a ver, outros com uma que outra parecença.
Pela origem dos negros trazidos para o Brasil como escravos se estabeleceram as chamadas nações religiosas. Na Bahia o candomblé, bem diferente da nação. Quando estive na Venezuela visitei um ilê extremamente parecido com os que existem no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e Belém do Pará. Os motivos da parecença deixo para os estudiosos. Mas sei que hoje, quem quiser estudar ou compreender as religiões animistas africanas vem ou ao Brasil, à Venezuela, ou à Cuba. Outros países da América Central tem traços animistas, mas já diferentes desta raiz trazida para cá. Na África mesmo, o que existe hoje são as almas salvas pelos missionários cristãos, protestantes mas principalmente a sharia, a severa lei muçulmana. E todas elas destroem quaisquer vestígios do "primitivismo" da rica cultura africana.
MAs reza a lenda que um ocutá (pedra que representa o orixá)  foi enterrado no meio do Mercado Público de POrto Alegre pelos meados de 1800 por um príncipe africano trazido como escravo ao Brasil e radicado em Pelotas. O fato é que o Mercado Público,com sua parafernália de produtos artesanais, carnes e legumes continua a ser passagem obrigatória para os aprontamentos de matriz africana.
E ontem, dia de São Pedro, assisti uma belíssima roda de batuque, com direito a tambores, agês, sinetas, axós (vestimentas típicas) e muitas rezas em yorubá.
E desejei ardentemente o dia em que os religiosos de matriz africana desliguem-se do sincretismo que foi necessário na época dos horrores da escravidão para assumir simplesmente o culto a seus orixás.

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