sábado, 14 de maio de 2011

Crack, Oxi e Estratégias Policiais

Tempos atrás escrevi sobre o crack e sua difusão nas camadas médias da população. Lembro que foi quando uma mãe, moradora de um bairro nobre de Porto Alegre, matou  a facadas seu filho, dependente desta droga. Depois disto, e de outros casos em classes sociais mais altas, campanhas contra o crack surgiram, ou ao menos foram anunciadas e bem divulgadas. 
Quando escrevi sobre este fato, se não me engano em 2009, já há dez anos um jovem de um bairro da periferia de Porto Alegre havia morrido da mesma forma, usuário da mesma droga. Na época, mereceu algumas linhas do jornal sensacionalista do Estado.
Em todo lugar se fala do crack. Escolas, ONG's, TV, jornais. E os usuários estão em todo o lugar. Dia destes, ao deixar uma amiga em casa, duas e pouco da manhã, contamos ao menos uma dúzia de pessoas vagando pelas ruas, com a postura característica de usuários, sem camisa uns, descalços outros. Magros, olhar perdido, dispostos a qualquer ato por mais uma pedra. Qualquer rua pouco movimentada nas madrugadas destes últimos tempos exibe sua coleção dos "pervas" (perversos), fumando suas Zbritas". Por qualquer bar com mesas nas calçadas passam eles à procura de uma lata, de cinzas, pedindo moedas. 
Quem já passou por alguma das vilas ou pontos onde se acontece a venda de crack e outras drogas teve noção do "esquemão" que cerca estes locais. E do movimento de carros, pessoas, o comércio aberto.
O atual governo do Estado tem feito algumas ações de combate e repressão à droga. Apreendeu, inclusive, a nova mais funesta da atualidade: O oxi. Se não me engano, foram feitas poucas apreensões no país. São Paulo, Acre, Paraná e Rio Grande do Sul. Era sobre o oxi que eu pretendia escrever.
Por isto pesquisei, jornais e internet, ouvi noticiários. Se o crack já possui uma letalidade alarmante, a nova droga é ainda mais nefasta. E mais barata, ou seja, vem cumprir o papel de controle social originalmente destinado ao crack. Que, penso eu, surge como política de extermínio deste imenso contingente paupérimo, revoltado, circundando o ato infracional, majoritariamente negro, herdeiros daqueles que construíram a riqueza deste país depois de arrancados de sua terra. Junto com descendentes de imigrantes, expulsos das terras que já não alimentam tantas bocas, Terras que hoje engordam o latifúndio, a monocultura,
É, tudo tem a ver.
Aquela parcela que nem mesmo de exército de reserva de mão-de-obra serve, por falta de qualificação.
Que não se fixa em escolas, mas que almeja, como bem apregoa a sociedade capitalista, ao consumo de bens que, por seus próprios meios jamais conseguirão obter. Que em pleno crescimento econômico dele não consegue usufruir, que não tem nem casa, quanto mais computador ou telefone. Que nem mesmo os programas assistenciais atingem. Que não tem, além da vida, nada a perder. 
Voltando ao oxi, por enquanto, está, pelo queli, restrito aos bairros pobres. Mas é questão de tempo sua disseminação.
Ainda sobre os artigos, todos eles falam na prisão de traficantes, em desmonte das estruturas, restrição da comunicação dos presos que continuam coordenando o tráfico mesmo dentro de presídios de máxima segurança. 
Mas o que chama mesmo atenção é que, em nenhum dos artigos fala-se em reorganizar a polícia, reequipá-la, modernizá-la. E principalmente humanizar a polícia. E, acima de tudo, em nenhum momento, falou-se em coibir a corrupção policial, responsável pelo tamanho do tráfico e do crime organizado no Brasil.
Quanto ao oxi, as previsões são funestas: Enquanto esta droga não chegar à classe média, continuará sendo apenas matéria de jornal, e suas vítimas, mais dados nas estatísticas.Certamente, ficarei muito feliz em ver errada esta previsão. Mas não sei se terei esta alegria.

Um comentário:

ALL XXX disse...

Bom artigo, devia enviar para publicar em jornais de circulação regional, Regina!