sábado, 11 de dezembro de 2010

Considerações sobre o amor

Pensava eu, dia destes, sobre as crueldades da humanidade. Do que nomina o que tem outros nomes, do que mais fere e machuca, do que humilha, mata e destrói. Do que busca motivos nobres por justificativa, mas que tem por finalidade a opressão, a dominação. 
Quando lembro das cruzadas em nome de Cristo, dos massacres em nome da religião, da soberba imposta por tiranos que  justificam-se cinicamente e de algozes passam-se, para incautos, por benfeitores.
Penso nas desgraças justificadas pela religião, pelo cruel bem-querer e pelo tal - ah - de amor.
Pobre amor, que em sua essência é pura libertação.
Em nome do amor mulheres são vigiadas, cerceadas e, não raro, mortas.
Em nome deste mesmo amor homens, em menores proporções, tem suas vidas controladas pelo ciúme doentio.
Em nome do afeto pessoas são aniquiladas, oprimidas, desprovidas dos mais básicos direitos de opinião, de vontades, de oportunidades.
Em nome do amor filhos são gerados por decisão de uma só pessoa, com objetivos determinados, independente da vontade e de combinações feitas. Aí o dito amor aparece com toda sua garbosidade e moral. 
O amor bestial, este que sufoca e aniquila, transforma imposições em agrados. O amor egoísta exige da criatura dita amada a total subserviência. Em nome do bem do ser amado a vontade deste aniquila-se, afinal quem ama sabe o que lhe é melhor. Este amor autoritário e perverso exige  que quem ama esteja sempre rodeado pelos seres amados, que lhes devem subserviência como retribuição do amor recebido. A troca deste amor é a companhia constante, o séquito ininterrupto. E quem não lhe fornecer este retorno do amor dado, este é o assassino, o perverso, o ingrato. Simplesmente por conseguir enxergar a manipulação exercida por quem abre mão da própria vida pela culpa de não poder descuidar ou contrariar aquele ser que tanto amor lhe embustiu dar.
E então, quando penso em todas as doutrinas monoteístas que apresentam-se como tendo por pilares a caridade e o amor, logo vejo a dissociação da teoria e da prática. Os deuses invocados pelos monoteístas, estes seres vingativos, bisbilhoteiros e cruéis, feitos à imagem e semelhança dos que lhes concedem autoridade. Estes seres que não podem ser contrariados. Se Deuses, vingam-se. Se humanos, adoecem, sofrem, e convencem a todos desta imensa ingratidão de quem lhe ousou desvendar a intenção criminosa de fazer com que sua vontade seja, a qualquer custo, soberana. Contrariar um destes vampiros do amor é debater-se com uma platéia de adoradores ludibriados por este ser amoroso.
Amor é tudo menos imposição, chantagem, manipulação. Amor não rima com autoritarismo, com crueldade, com chantagens, com manipulação. Amor não  entende que a vontade daquele que diz amar tenha que ser soberana. Os impostores que se deleitam e utilizam de um amor inventado, daquele criado para justificar suas próprias carências e necessidades, certamente podem conhecer e sentir sentimentos variados, como o egoísmo, a soberba, o desprezo por aqueles que dizem amar e principalmente a imensa vaidade de ter sua vontade sempre cumprida.
Na  verdade, este amor cínico, cruel e egoísta só faz mal aos incautos cuidadosamente preparados para serem tropa guardiã do monstro que tudo consegue em nome do amor.
O amor não criminoso, o amor verdadeiro, é aquele que se alegra em ver seus seres amados alçando vôo ao invés de engendrar armadiljas para ver-se sempre cercado por eles. Quem ama quer ver o ser amado longe, descobrindo-se, desabrochando, e não enrodilhado à sua volta, fazendo parte da corte cruel que lhe é imposta.
Quem ama prepara seus amados para a liberdade. Este é o verdadeiro amor: Aquele que quer ver o objeto de seu amor livre, construído e constituído.
Quem ama prepara os seres que diz amar para a vida, e não lhes cobra servidão incondicional.
Quem ama não exige sacrifícios do ser amado.

Um comentário:

João Paulo Naves Fernandes disse...

Gostei Regina. é importante abrir espaço para refletirmos sobre o amor, num mundo onde ele tem pouco espaço e é manipulado de várias maneiras. O amor deve receber o seu verdadeiro lugar. A política sem amor é nula.