domingo, 28 de novembro de 2010

Musica para o sábado

Desta vez uma pérola, da década de 70 e que embalou minhas tardes de adolescente. Muito procurei até, por insistência encontrar no youtube. Praticamente desconhecido, das melhores obras de grande Gil, merece ser ouvido com muita atenção. Gravado em Londres, e pouco escutado por aqui. Um deleite!!

domingo, 21 de novembro de 2010

O que é isto, santidade?

Pois agora a hipocrisia religiosa declarou-se com todas as letras. O dito "santo" papa, pressionado pela verdade, pela ciência e pela lógica resolve admitir que preservativos podem ser usados,  mas só em determinadas situações.
Pois agora a igreja católica agora admite o uso de preservativos, mas restrito aos homens que se utilizam da prostituição. Feminina, claro. E só nestes casos.
Adolescentes descobrindo sexo, adultos com vida sexual ativa, homo e heterossexuais, se não estiverem usufruindo de sexo pago, continuam sendo excomungados, ou seja, incorrendo em pecado que lhes poderá custar a alma no céu. No entendimento da santidade, além de admitir abertamente a prostituição (a feminina, claro), absolve de punição os homens que dela se utilizam, apesar de condenar as mulheres que lhes fornecem a prestação de serviços sexuais.
O uso de preservativos merece recomendação em qualquer situação, como única  forma capaz  de deter a epidemia de AIDS que se alastra pelo planeta todo. Mesmo entre casais com relações formais, mais ainda entre pessoas com relacionamentos eventuais. A AIDS, que hoje já não ocupa tanto espaço na mídia, mas que continua matando, deixou de ter grupos de risco hoje ameaça indiscriminadamente homens, mulheres, gays, jovens e velhos. Merece campanhas preventivas e que tem como única barreira justamente o que é, para os arcaicos religiosos católicos, pecado. O preservativo.
A África, como continente ainda em colonização, com seus missionários cristãos, sejam eles católicos, islâmicos ou protestantes, é o mais atingido pela epidemia. A medicação que no ocidente torna a infecção pelo HIV uma doença crônica, por lá atinge e mata cerca de um quinto da população. Lá inexiste  uma  política governamental que distribua medicamentos, que dê conta dos já infectados. Os estupros, crime comum naquele continente, somado à proibição religiosa de preservativos torna a AIDS a maior causa de mortes e reduz a expectativa de vida aos 40 anos em determinados países. São inúmeras as crianças infectadas. Ao invés de gastar com missionários, bem poderiam os cristãos gastarem seus euros e dólares com preservativos e coquetéis. Não salvassem a alma, ao menos a carne estaria resgatada. Mas não, os herdeiros do Cristo crucificado preferem as almas, indiferentes ao sofrimento e a miséria. Portanto,  condenam e tornam pecado o uso de preservativos, influenciando os governos e a prória sociedade civil. para que não haja programas de distribuição gratuita de preservativos. E naqueles países destroçados pela crueldade ocidental, ainda hoje e muito dominados pelo imperialismo, a religião é ponto essencial para a dominação branca. A  cultura ocidental cristã imposta em detrimento da rica cultura africana está se dando, em sua maioria, pela religião monoteísta cristã. Os africanos não eram acostumados à idéia de um deus bisbilhoteiro, vingativo e cruel. E é este deus que proíbe a camisinha, que reforça o machismo, que estimula crenças infames (como a cura da AIDS através do estupro de uma virgem), e ainda proíbe o que lhes poderia salvar a vida.
A ameaça do fogo eterno aos usuários de preservativos extrapola o fanatismo, a irracionalidade. Beira o crime, conduz os incautos que professam tal fé ao risco de vida. Porque ao reconhecer a abstinência e a fidelidade como únicas formas de deter a epidemia, a igreja católica torna-se responsável pela possibilidade de morte de milhões de pessoas que professam sua fé.
Mas a contradição admitida pelo papa merece um olhar especial. Ou seja, homens podem pecar contra a castidade e inclusive precaver-se da contaminação.
A hipocrisia cristã avança mais um passo para sua própria desconstituição.
Afinal, a igreja prefere salvar almas, mesmo que os corpos padeçam até a morte de uma doença que facilmente poderia ser evitada. Tudo culpa de Eva, que, afinal, seduziu Adão.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sobre a infância e juventude excluída

O trabalho (quase impossível) de educar é algo tão emaranhado, tão cheio de desconstruir mitos e preconceitos (inclusive de outros educadores), é tão sutilmente condicionado a não acontecer... Ser educador, hoje, é quase uma guerrilha cultural, enfrentamento direto com as velharias que nos enfiaram goela abaixo por séculos e séculos, e que inclusive quem sofre a repressão ideológica dos dominantes, custa a entender.
Minha volta ao trabalho na Fundação de Proteção Especial traz outra vez os choques com aqueles que deveriam ter uma passagem provisória nos abrigos, e no entanto terminam por viver a  parte grande  de suas infâncias e adolescências em instituições.
Na Fundação de Proteção, herdeira da antiga FEBEM mas que se dedica ao atendimento de crianças e adolescentes em situação de abandono e/ou de risco, cerca de 40 abrigos atendem de 14 a 18 abrigados. De acordo com a determinação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) são abrigados juntos crianças e adolescentes, portadores de necessidades especiais, bebês, usuários de drogas em tentativa de recuperação, adolescentes que cumprem medidas por atos infracionais em meio aberto.
Geralmente dois trabalhadores (antes monitores, agora educadores) e, com sorte um profissional de cozinha dão conta de todas as tarefas do abrigo, de atendimentos médicos, pricológicos na rede pública à escola, escalas de tarefas, higiene, disciplina. Limites para quem nunca teve limites, afeto para quem não está acostumado com afeto, escola, temas, conversas, conversas e mais conversas.
A bagagem de cada acolhido nestses abrigos é geralmente  cruel. São estórias de abandono, de maus tratos, de abusos, de desamor.
Mas o abrigo deve ser passageiro. O trabalho deve ser feito não só com o abrigado, mas com as famílias, que precisam se organizar para retomar os vínculos com seus filhos, ou sobrinhos, ou afilhados. Por mais confortável que um abrigo pudesse ser, nada como a casa de cada um deles, e isto é verbalizado.
Enfim, mesmo com o avanço dos programas sociais, não basta acolher a criança ou o adolescente e mantê-lo no abrigo. Porque os 18 anos chegam rápido, e aí? São muitos os casos em que os adolescentes desligados não conseguem desinstitucionalizar-se, e ficam vivendo às voltas dos abrigos, a família que lhes foi possível.
Por isto, a maior urgência é o acompanhamento das famílias, para trabalho, para programas sociais, para reestruturação. E isto pouco ou nada depende dos trabalhadores de dentro dos abrigos.
De certo, só que enquanto continuar o sistema capitalista com sua crueldade e desigualdade, continuarão a existir abrigos, abrigados e exclusão de crianças, adolescentes e suas famílias.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sobre o Ato de Escrever

O ato de escrever tem uma singularidade sobre nossas (ou minhas) outras características. Escreve-se às vezes por impulso, por vaidade ou por ofício. Certo, pode-se empilhar razões e motivos, mas escreve-se, principalmente, pelo prazer. Escreve-se pelo deleite de  comunicar ou compartilhar nossas opiniões.
Escreve-se como depoimento vamente sugerido. Escreve-se  com a ousadia de imaginar desdobramentos de ações a partir das similaridades, do conhecimento adquirido ou da conjunção de fatores presentes. E Então escrevemos porque entendemos os fatos. Bem cedinho.
Escreve-se por que a palavra escrita é hoje, de todas,  a arma predileta do poder estabelecido e nossa maior possibilidade: O convencimento pela  razão. Bem, nós temos a razão.
Escrever juntando a observação com a elaboração. Sobre o visto e o vivido. Pintar retratos com idéias derramadas em palavras. Contaminar o conhecimento alheio de realidade.
Escrever pode ser reafirmar o já dito, explicar o ocorrido. Mas é muito mais do que isto.
Escrever pode ser publicizar e por a prova o que entendemos como corretas posições, idéias e conceitos.
Escrever é desnudar nossas fraquezas e incapacidades, ou corroborar nosso conhecimento.
Escrever é contaminar de tesão nosso pequeno mundo.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dilma ganhou, Marina sumiu, Serra não morreu




Aquele suspiro de alívio a que só me atrevi quando ouvi do ministro Levandowski o anúncio oficial de vitória de Dilma. Do início da campanha até aqui, passando pelo avesso de eleger o governador Tarso no primeiro turno e entrar em campanha para o segundo, momentos impagáveis, como a expressão dos globais âncoras de diversos telejornais, e tensão, muita tensão.
Concorri eu, como tarefa partidária, sabedora da impossibilidade da eleição. Sabedora mais da necessidade de, primeiro, tirar de meu estado o urubu paulista que por aqui pousou. Mas imensamente mais sabedora da necessidade de continuar o projeto nacional de desenvolvimento, de não vergar a coluna aos poderosos do norte, de seguir o que começou com Lula.
Dilma não é Lula, e tomara que esteja ele sempre ao seu lado.
Porque não será nada fácil manter e acirrar o processo iniciado em 2002.
Tive uma idéia do que espera por Dilma ouvindo hoje, no rádio, uma entrevista  sobre a necessidade de nova reforma da previdência, com louvores sobre a atitude de Sarkosy na França, sobre o aumento da expectativa de vida dos brasileiros. Ou seja, o movimento sindical querendo acabar com previdenciário e o neoliberalismo hoje, um dia após a eleição da presidente, dando seus ares.
Dilma ganhou. Tanto quanto Lula, ganhou o governo, quanto ao poder é outra história. E olhos gananciosos espreitam, com muita gula, um Brasil que teve sua economia resgatada por Lula apresar de todas as armações, escândalos, mídia cercando, denúncias de todos os tipos e queixas. Muitas queixas dos herdeiros do capital acumulado por mais de 500 anos de escravidão, explorações, expoliações, uma luta de classes em que sempre o sem alguma coisa foi massacrado pelo dono de muitas coisas. Por isto a repulsa pela bolsa família, por programas sociais, por qualquer coisa que trouxesse ao Zé Povinho qualquer sopro de vida melhor.
E isto, esta indignação do neoliberalismo com um governo que ousa contrariar os poderosos de sempre não passará em branco, tanto quanto o governo Lula não passou. Os neoliberais e seus novos aliados, como a "doce" Marina, que ao não se decidir decidiu-se. E que desapareceu providencialmente após sua confissão de cada um por si e deus por Serra. Mas que deixou claro que foi apenas uma escapada estratégica, para acumular forças e retornar com tudo com sua esperteza de beata inconformada. 
Terá companhia. 
Pelo discurso ácido do "candidato derrotado", como inclusive a Globo está chamando o tucano, pela expressão de ódio, pelas ameaças veladas e as garantias de retorno, a direita sai desta eleição organizada e com líder definido. E não poderia ser outro. Afinal, nem Aécio nem Alkmin, nem Jatene, todos eles com mandato vão querer chefiar a ira neoliberal. Os ventos progressistas sopram na América Latina, no mundo. Mas um líder fascista sempre encontra seu lugar, e Serra tem tudo para transformar-se numa referência da direita brasileira, quiçá latino-americana. E o PSDB não saiu mal desta eleição. Elegeu boas bancadas estaduais e federal, oito governadores que juntos administrarão 56,4% do PIB brasileiro. E Serra, o derrotado, afinal fez seus 45% de votos. Muito voto.
Serra não morreu, e Marina, entre outros, aguarda-o. Tomara Dilma, a base aliada, os brasileiros e brasileiras decentes saibam identificar, denunciar e combater as baixarias e artimanhas desta oposição inconsequente e irredutível que busca apenas a desestabilização do projeto desenvolvimentista nacional.
Por isto nossa tarefa começa antes mesmo da posse de Dilma. Empurrar seu governo cada vez mais para a esquerda, mas dar-lhe sustentação nas ruas, nos movimentos sociais, alimentar a internet com informações corretas. Com a direita não se brinca. 
Mas ninguém segura o povo organizado e um governo coerente.