terça-feira, 3 de agosto de 2010

Linguagem, machismo e invisibilidade

Com a possibilidade concreta da primeira mulher presidenta do Brasil surge a dúvida: Presidenta ou presidente? Esta coisa de substantivos ou adjetivos comum de dois gêneros, na verdade cumpre a função social de reafirmar a invisibilidade da mulher na língua portuguesa.Já ouvi absurdos como "juizes femininos". Já ouvi instrutores, mobilizadores, superintendentes, ao invés de superintendentas. Tenentes, ao invés de tenentas. Capitães, e não capitãs.
Sábado ainda, ao visitar uma boate gay em Caxias do Sul, fui tratada como senhora, senhorita, enquanto homens, mais velhos que eu, eram tratados por tu, você. A mim não passa por demonstração de respeito: Trata-se de distanciamento, mulher da minha idade em local alternativo, tem que ser colocada em seu lugar.
E as palavras tem esta finalidade: Colocar as coisas dentro do que prevê e pretende a ideologia dominante, que dá ao homem a primazia. Como quando se subscreve um cartão com Sr. e Sra joão da Silva. como se a mulher não dispusesse de nome próprio, pobre apêndice do marido, este sim cidadão com direito a identidade e nome.Ou os cartões "Sr. João de tal e família", como se mulher e filhos fossem apenas parte da bagagem familiar, complemento daquele que é o rei do lar, este sim indivíduo com identidade.
Então me convenço que a linguagem é muito maior do que o "políticamente correto". É a afirmação da individualidade feminina. Da mesma maneira que encontramos pessoas até bem intencionadas querendo "esclarecer" as coisas, "clarear" as idéias, como se algume coisa escura fosse embaçadas, confusas, incapazes de explicar o que deve ser entendido.
Enquanto continuarmos a comprimentar a todos, esquecendo as todas que muitas vezes são em maior número, a esclarecer assuntos e a aceitar que substantivos e adjetivos sexistas e racistas para nos expressar, podem ter certeza: Estamos contribuindo para a manutenção e consolidação das opressões.

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