sábado, 27 de março de 2010

Sete Mil!


Valeu, gente, sete mil acessos, cada um deles muito importante para mim!

Nuvens vistas da janela de aviões
são tapetes esparramados.
Cobrem os rios esfumaçadas em vapor,
amontoam-se em pequenas bolotas,
fazem figuras, desfazem figuras,
deformam-se e formam e voltam em seguida.
Nuvens (notadamente as bem brancas),
cinzas, quase chumbo,
grossas, finas,
quase transparentes,
transbordando e sumindo,
para revelar lá, muito longe,
um rio, um monte, uma cidade.
Nuvens confundem-se com o horizonte,
parecem gatos gordos,fumaça correndo,
sombreiam e são cercadas por sol.
Nuvens crescem, encharcam a paisagem,
entopem as janelas,
são absolutas.
Mas as nuvens aos poucos
começam a escassear,
o chão se poe a crescer,
os andares se desfazendo,
os fiapos de nuvens correndo no céu.
Então o chão toma conta,
toma sua forma,
e as nuvens voltam ao céu
esperando outros passageiros
para acompanhar mais uma viagem.

quinta-feira, 18 de março de 2010

MediaSana



O Media Sana é um coletivo de artistas multimídia que atua nas relações entre a comunicação e a cidadania. As apresentações ao vivo do grupo sugerem uma experimentação que, de certa maneira, viabiliza o acesso do cidadão comum ao complexo midiático – a reciclagem de mídia.

Esta reciclagem se dá por meio da re-utilização de imagens, manchetes de jornal, textos informativos e depoimentos proferidos nos canais de televisão, escolhidos segundo critérios de conteúdo semântico, sonoridade, disposição gráfica e teor político.

Estes recortes da mídia são associados às notas de uma trilha musical e compõem uma “canção midiática”, com estrutura de letra e refrão. Estas canções são criadas a partir de um tema ligado às questões de cidadania (televisão, ecologia, etc.) e podem ser recriadas e atualizadas ao incorporar novas amostras coletadas.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Doença e preconceito

Estou firmemente convencida que não temos idéia do tamanho da carga de preconceito sofrido pelas chamadas minorias sociais. No Brasil, por sinal, chamar negros, índios e mulheres, não faz o menor sentido. Mulheres são mais da metade da população e quatro quintos dos brasileiros carregam genes negros ou indígenas.
Falo em preconceito depois de sentar em um bar de periferia com um amigo gay para conversarmos a respeito de nosso curso, na federal do RS. Onde um homem branco, acompanhado de uma criança de seus dez, doze anos, aparentemente seu filho bebia. Completamente embriagado, apesar dos protestos da criança, o “senhor” em questão não se resolvia a ir embora. E quando nos viu chegando, eu uma mulher cinquentona, ele um gay de vinte e poucos anos, indignou-se. Meu amigo não quis incomodar-se com os olhares de curiosidade do bêbado, já calejado com situações como esta. Então, como não obteve nem bradou em alto e bom som:
- Eu sou homem de verdade. E virando-se para outro freqüentador perguntou:
- E tu, és homem ou aquela outra coisa?
O outro freqüentador, constrangido, respondeu que sim, era homem. E virou-se para não continuar o assunto. Este freqüentador, ao ouvir o (provavelmente) filho reclamar de sono, comentou que se a criança fosse embora poderia ser culpada de abandono de incapaz.
Indignada com a situação do incapaz (o bêbado, não a criança, e a fragilidade da criança, submetida ao que considerei maus tratos), tentei ligar para o 190. Por ser crime levar uma criança para bares naquele horário (22 horas). Por ser crime oferecer cerveja para o menino, que já estava completamente irritado. E por ser crime federal discriminar ou ofender alguém em função de sua orientação sexual. Mesmo que a lei contra a homofobia, infelizmente, ainda não seja lei.
Enquanto tentava falar com a polícia militar, entretanto, o sujeito levantou-se, trôpego, e saiu. E absolutamente estarrecida, vi-o arrancar um carro do tipo furgão, derrapando pneus, completamente embriagado, carregando uma criança. Infelizmente não consegui enxergar a placa. Infelizmente, não pude denunciá-lo. Infelizmente.
E pensei na miséria da condição humana, onde um doente, necessitado de tratamento e limites, acha-se em condições de criticar alguém simplesmente por seu pensamento e gosto não lhe ser igual.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Falando em Mulheres


Falando em mulheres
Eu quero falar de mulheres, e em português. No máximo, em espanhol, língua hermana.
E o que pasa? mi alma, cargada de lluvas, dolores y muertes?
No! Mi alma es cargada da de alegria! Yo no soy angel, no soy diablo,
Soy apenas mujer!
Quero falar de mulheres que carregam seus filhos prá creche, prá casa da mãe, vizinho, reunião. Prá tudo. E das que acharam melhor não ter filhos, e adotaram o mundo.
Mulheres que sempre pagaram seus absorventes e detestam suas cólicas.
Quero falar de mulheres que trabalham muito mais e ganham menos.
Das que apanham por medo de perder seus afetos, e das que resolveram não apanhar. E perderam seus afetos.
Vou falar de mulheres brancas, negras, índias, velhas, novas. Das negras que não querem ter alma branca, das mestras que ensinam ao contrário do que aprenderam, das que adoram o que fazem e das que fazem o que fazem porque precisam viver.
Mulheres que batem cartão todo dia, prá cobrir o maldito cheque, que de especial não tem nada. Mas que dão jeito de pagar, elas mesmas, suas contas.
Das que são bonitas, e das que são belas sem serem bonitas. E não dispensam um creminho básico, as vezes de cara lavada e chinelinho, outras vezes arrasando no modelito.
Quero falar de mulheres atrevidas, que quando não vão trabalhar, não dizem que estavam doentes. Dizem que encheram a cara e estavam de ressaca.
E também daquelas que carregam camisinhas na bolsa para alguma emergência, que de ferro ninguém é. Ao menos, elas não.
Quero falar das mulheres porrada do MST, que não tem medo de frio, de estrada, de brigada, e que arrancam sem dó aquela praga de eucalipto, porque com esta morte, a dos eucaliptos, elas dignificam a vida do nosso povo.
Quero falar das mulheres que conhecem seu lugar, que se põem no seu lugar.
Que é na frente da luta, puxando ou empurrando a luta, tanto faz.
Disse-me, uma vez, uma destas mulheres maravilhosas, que frágil é o preconceito de quem nos entende ou nos quer frágeis. E que só somos frágeis enquanto não entendemos o nosso papel, o de mulheres plenas, que nasceram para, ou junto com os homens ou sem eles, para uma vida plena de felicidade.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A TV que dizem que todo mundo vê...


Chego em casa, ligo a tv e ouço o final do programa diário do BBB. Diz o Pedro, pseudojornalista transformado em fanfarrão circense: "São noventa e dois milhões e cacetada e tanto mil votos!" O choque da informação me mantém no canal por alguns minutos. Enquanto misturo manteiga no meu pão, raciocino: Quantos milhões de habitantes tem o Brasil? Quantos deles assistem o programa? Quantos gastariam suas linhas ou créditos telefônicos para votar? Quem controla a veracidade destes votos? Termino de passar manteiga no pão, abro uma lata de cerveja, tiro o som da TV e concluo que noventa milhões de brasileiros devem ter mais o que fazer do que assistir esta coisa.